Rede de pornografia expõe crianças e jovens

 

12/08/2016
Thiago Soares

 

Uma longa investigação da Polícia Federal resultou em 15 prisões no Distrito Federal e em Goiás. Todos os envolvidos são suspeitos de integrar uma rede de compartilhamento de pornografia infantil no Brasil. O armazenamento, a produção e a divulgação de conteúdo pornográfico de crianças e adolescentes na internet é apontado por especialistas como passo inicial para a evolução desses crimes para abusos sexuais. Na capital do país, somente no ano passado, houve 185 comunicados de violência sexual no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), contra 217, em 2014, e 303, em 2013,

Durante a Operação Láquesis, cerca de 150 policiais federais cumpriram 35 mandados de busca e apreensão. Desse total, 29 ocorreram em Brasília. No momento da abordagem, um dos acusados engoliu um pendrive. Em outra, a PF surpreendeu um servidor da Câmara dos Deputados com 300 HDs externos. Além do DF e de Anápolis, os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em Vila Velha (ES), em Sinop (MT) e em Cuiabá (MT). Dos presos, 13 são do Distrito Federal e dois, do município goiano.

Segundo o chefe do Grupo de Crimes Cibernéticos da Polícia Federal no DF, Stênio Santos Souza, as investigações tiveram início entre janeiro e março do ano passado. A PF descobriu uma rede de compartilhamento de pornografia infantil e, em seguida, identificou os suspeitos em acessos de ponto a ponto na internet. “Tínhamos conhecimento desse tipo de compartilhamento e decidimos monitorar a internet. Inicialmente, o relacionamento dos suspeitos era apenas por meio do conteúdo. Temos somente alguns que se conheciam pessoalmente”, detalhou.

Entre o material apreendido, os policiais localizaram imagens de crianças e adolescentes praticando sexo. Os investigadores ainda não sabem se os envolvidos também produziam esse tipo de conteúdo. “Esta será uma nova etapa dos trabalhos. Vamos identificar a rede de onde partiram as imagens e, ainda, as possíveis vítimas”, explicou o delegado. Para isso, a corporação conta com parcerias com a Agência de Polícia Internacional (Interpol) e a polícia federal norte-americana (FBI). “Isso nos possibilita identificar se essas vítimas são do Brasil ou de outras partes do mundo e chegar à pessoa que produziu os conteúdos e cometeu os abusos”, detalhou.

 

Perfis

As investigações também avançam no sentido de identificar se os envolvidos participam de fóruns on-line. A ferramenta possibilita compartilhamento ainda maior desses conteúdos ilícitos, segundo a polícia. O delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF no DF, Kel Lúcio Nascimento, avaliou a operação como fundamental no combate a esse tipo de delito. “O nosso objetivo é que as pessoas parem de fazer esse tipo de prática. O compartilhamento de imagens sexuais de crianças e adolescentes é crime”, apontou.

O perfil dos investigados inclui jovens e adultos de diferentes condições socieconômicas. No Distrito Federal, foram cumpridos mandados na Asa Norte, na Asa Sul, no Lago Norte, Lago Sul, em Ceilândia e no Gama. “Não existe um perfil específico, são bem variáveis. Queremos que esse tipo de crime reduza no país”, disse a delegada Kelly Cristina de Castro, também integrante da investigação.

Os suspeitos de posse de imagens pornográficas de crianças e adolescentes podem pagar fiança, que pode chegar a R$ 40 mil. Os acusados de compartilhamento permanecem presos. Se condenados, a pena varia de 3 a 20 anos de reclusão.

 

Contato direto

Significa que os computadores têm contato direto. Desta forma, o arquivo de uma máquina é compartilhado entre todos os outros. Ao mesmo tempo que são individuais, os documentos são simultâneos. É a mesma estrutura da internet, mas específica para quem usa determinados softwares.

 

Cuidados on-line

» Não abra links desconhecidos

» Evite baixar vídeo, imagem e áudio com conteúdo duvidoso

» Não baixe versões falsas de aplicativos

» Não envie dados pessoais ou bancários por mensagens

» Altere as configurações de privacidade

» Monitore o uso do computador familiar

 

Correio braziliense, n. 19436, 12/08/2016. Cidades, p. 15