O homem de todos os escândalos

 

06/09/2016
Eduardo Militão

 

O ex-presidente da empreiteira OAS José Adelmário Pinheiro Filho, o “Léo” Pinheiro, foi alvo de duas ações da Polícia Federal ontem, uma delas por ser suspeito de oferecer R$ 5 milhões em propinas para o ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF), preso no Paraná desde abril. Na Operação Greendfield, o ex-executivo foi conduzido coercitivamente sob acusação de participar de um esquema em incorporação imobiliária com o fundo de pensão Funcef(veja mais na página 6). Ao cumprirem o mandado da 10ª Vara Federal de Brasília, os policiais aproveitaram e executaram ordem de prisão do juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, porque o empreiteiro é suspeito de corromper o político do Distrito Federal. A detenção acontece duas semanas depois de Léo Pinheiro e demais ex-executivos ligados à OAS verem o Ministério Público cancelar negociação por delação premiada do grupo. A situação do ex-presidente da empreiteira se complicou ainda mais.

Com isso, a Procuradoria reiterou um pedido de prisão de março deste ano — antes ainda da prisão de Gim, em 12 de abril — em que já havia solicitado a prisão do ex-presidente da empreiteira. De acordo com a força-tarefa, Léo Pinheiro deve ser preso porque, além de ser suspeito de pagar propina ao então senador para que ele blindasse empreiteiras em CPIs da Petrobras no Congresso, o ex-executivo participou de ao menos mais dois esquemas.

Num deles, o empreiteiro “praticou crimes de lavagem de ativos de aproximadamente R$ 28 milhões com a celebração de diversos contratos ideologicamente falsos”, de acordo com o Ministério Público. Esses negócios fictícios foram feitos com a ajuda dos contadores Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, que se tornaram delatores. A lavagem foi feita para mascarar corrupção derivada de obras públicas, como projetos de linhas do metrô de São Paulo, governado pelo PSDB, e a construção do Estádio Fonte Nova, em Salvador, para a Copa do Mundo de 2014, período da gestão do PT no estado. Como mostrou o Correio, o dinheiro desviado a partir de Trombeta e Morales também irrigou contas ligadas a políticos do Nordeste. Além disso, Leo Pinheiro praticou atos de lavagem por meio do lobista de Mário Góes, em obras do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), ainda de acordo com a Procuradoria.

Na ordem de prisão, Moro destacou a “ousadia” de Léo Pinheiro. “Reforçam esse risco (…) a própria ousadia em subornar senador da República para impedir o regular funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito.”

 

Soltura

O advogado do ex-executivo, Edward de Carvalho, foi procurado pelo jornal, mas não respondeu às ligações. A OAS disse que “não tem o que comentar” e destacou que Léo Pinheiro “não exerce mais qualquer cargo na empresa”.

O defensor de Gim, Marcelo Bessa, disse que, como o ex-senador não cometeu crimes, entende que o empreiteiro deverá ser solto. “Ficou demonstrado que Gim não cometeu nenhum ato ilícito”, afirmou.

Léo Pinheiro era considerado líder das empreiteiras na tentativa de proteger as empresas nas CPIs da Petrobras realizadas pelo Congresso em 2014, segundo os executivos delatores Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Júlio Camargo, da Toyo Setal. Gim é acusado de pedir R$ 35 milhões, embora tenha obtido apenas R$ 7,2 milhões, para blindá-los das apurações no Parlamento. Em seu depoimento à Justiça, o ex-senador disse que Léo Pinheiro aparecia em reuniões apesar de seus contatos serem com Azevedo. Bessa não quis comentar a hipótese de Gim ter sido assediado, mas não ter cedido aos apelos dos empresários. “Jamais foi pedido a Léo Pinheiro ou ao Júlio Camargo nenhum tipo de vantagem indevida. O que eles falam a terceiro a gente não sabe. Só podemos nos responsabilizar pelo que ele (Gim) disse”, comentou o advogado.

Segundo a apuração, a OAS repassou R$ 350 mil como propina para uma paróquia indicada pelo ex-senador.

 

Correio braziliense, n. 19461, 06/09/2016. Política, p. 2