Inflação olímpica no Rio

Lucianne Carneiro

10/09/2016

 

 

Diárias de hotéis sobem 111%, e IPCA na cidade dobra para 1%. No país, índice foi de 0,44%. 

Os preços elevados que visitantes e cariocas sentiram no bolso durante a Olimpíada apareceram com força na inflação. No mês de agosto, quase um terço (0,12 ponto percentual) da alta de 0,44% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial no país, veio do Rio. Na Região Metropolitana do Rio, a alta de preços dobrou de 0,5% em julho para 1% em agosto, a maior taxa para o mês desde 2004 (1,09%). No Brasil, porém, a tendência foi inversa: o IPCA recuou de 0,52% em julho para 0,44% em agosto. E o freio na alta de preços só não foi maior porque a alta de 111,23% nas diárias de hotel no Rio teve impacto de 0,4 ponto percentual — ou 10% do total — na inflação nacional.

E o efeito olímpico foi além dos hotéis. A alta no preço dos alimentos no Rio foi o triplo da registrada no país: 0,90% frente aos 0,30% da média nacional. O custo da alimentação fora de casa subiu 0,99% na Região Metropolitana do Estado, enquanto ficou praticamente estável na média nacional, com variação de 0,18%.

PREÇO DO FEIJÃO-CARIOCA CAI 5,60%

Os preços de passagens áreas no Rio também avançaram com força, subindo 7,50% no mês passado. O Rio foi uma das três únicas regiões com alta nas passagens em agosto. Na média nacional, os preços desse item tiveram deflação de 3,85%.

— De fato, o IPCA foi influenciado pela Olimpíada. O Rio exerceu pressão forte. Houve pressão, em especial, do valor das diárias de hotel, que mais do que dobraram — ressalta Eulina Nunes, coordenadora de índices de preços do IBGE.

Ma a tendência é que, nos próximos meses, o impacto da Olimpíada na inflação se dissipe, afirmam analistas. Na Copa do Mundo foi assim. Em junho de 2014, o preço das diárias de hotel no país subiu 25,33%, mas a alta foi seguida por dois meses de deflação: 7,65% em julho e 10,13% em agosto.

A dúvida, porém, é quando haverá um refresco nas diárias de hotéis dessa vez, já que o Rio ainda sedia a Paralimpíada este mês.

— Há um efeito Olimpíada na inflação de agosto, e a tendência é que parte do sobrepreço seja devolvida mais à frente. É preciso aguardar, no entanto, para saber qual será o efeito da Paralimpíada — explica o economista da LCA Consultores Fabio Romão.

O efeito dos Jogos no Rio acabou encobrindo o impacto mais positivo da desaceleração de preços de alimentos na inflação nacional em agosto, na avaliação do economista da consultoria Rosenberg&Associados Leonardo França Costa. Os preços de alimentos avançaram 0,30% em agosto, o que representa forte desaceleração frente aos 1,32% de julho. Entrada da safra, melhora do clima e demanda menor por causa da recessão ajudaram neste ritmo menor de alta após meses de pressão intensa do custo de alimentos.

O preço do leite longa vida, que tinha subido 17,58% em julho, avançou 2,52% em agosto. Nos doze meses encerrados em agosto, no entanto, a alta acumulada é de quase 50% (47,67%). Já o feijão-carioca, que tinha aumentado 32,42% em julho, teve deflação de 5,60% em agosto. Ainda assim, acumula um salto de 160,25% nos doze meses encerrados em agosto.

E a expectativa é que a desaceleração dos alimentos se mantenha em setembro. A LCA Consultores, por exemplo, espera deflação de 0,15% nos preços de alimentos em setembro, enquanto a projeção para o IPCA do mês é de 0,32%. Para 2016, a estimativa é que a taxa fique em 7,5%, bem acima do teto da meta de inflação do governo, que é de 6,5%. Nos últimos 12 meses, o IPCA subiu 8,97%.

— Devemos continuar a ver algum comportamento melhor dos preços de alimentos — afirma Fabio Romão.

INFLAÇÃO PARA OS MAIS POBRES FICA EM 0,31%

O Itaú prevê um IPCA de 0,30% em setembro e, para o resultado fechado do ano, estima uma alta de 7,2% na inflação. Na avaliação do economista Alberto Ramos, da Goldman Sachs, o alívio nos preços de alimentos esperado para os próximos meses deve abrir caminho para o Banco Central reduzir a taxa básica de juros antes do fim do ano,

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) — que considera as famílias com entre um e cinco salários mínimos — ficou em 0,31% em agosto, após alta de 0,64% em julho. IBGE muda cálculo para doméstico, e inflação de serviços cede menos, na página 20 Com procura baixa, hotéis tem agora desafio de atrair hóspedes, na página 14.

 

O globo, n. 30350, 10/09/2016. Economia, p.19