Campanha de Crivella exibe foto adulterada em inserção de TV

LUIZ GUSTAVO SCHMITT

30/09/2016

A campanha do senador Marcelo Crivella (PRB) retirou a imagem do ex-presidente Lula de uma foto em que o petista e líderes do PMDB do Rio apontavam em direção a Pedro Paulo (PMDB), que, na ocasião, ainda não tinha sido confirmado como candidato a prefeito. A foto foi exibida ontem à noite, em inserção num dos intervalos da segunda edição do RJ-TV, da TV Globo, num vídeo produzido pela campanha de Crivella.

O candidato do PRB não é citado no texto, no entanto, é possível identificar a autoria da inserção nas letras pequenas que revelam os nomes dos partidos que fazem parte da coligação responsável. O caso de manipulação de imagem foi revelado pelo jornalista Fernando Molica, em sua página do Facebook.

Segundo Molica, a foto original foi feita em fevereiro de 2015, quando PT e PMDB-RJ ainda eram aliados. Na imagem, Pedro Paulo está abraçado ao ex-presidente. Também estão na fotografia o ex-governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e o governador licenciado Luiz Fernando Pezão, que recupera-se de um câncer.

POSSÍVEL APOIO DO PT NO SEGUNDO TURNO

Em entrevistas recentes, o bispo licenciado da Igreja Universal tem adotado um tom ameno quando confrontado sobre as acusações de que Lula seria o comandante do petrolão, esquema de corrupção na Petrobras. Na sexta-feira, Crivella disse em sabatina ao GLOBO que não tinha convicção sobre as acusações contra o petista. Nos bastidores, comenta-se que o senador já está de olho no apoio do PT no segundo turno, numa eventual disputa com Pedro Paulo. Crivella foi ministro da ex-presidente Dilma. No entanto, na votação do impeachment mudou de lado e demonstrou ser favorável ao afastamento da petista.

Ontem, o programa eleitoral de Crivella mostrou pela primeira vez o senador ao lado de sua mulher, Sylvia Jane Crivella. No vídeo, o candidato se defendeu de ataques dos adversários que têm procurado vincular sua imagem à do bispo Edir Macedo, de quem Crivella é sobrinho. O candidato se disse vítima de “calúnias” por causa de sua fé e centrou fogo na gestão de Paes.

— É verdade que fui missionário, mas também já exerci outras atividades e há 14 anos me dedico exclusivamente ao Senado Federal. Acredito numa gestão técnica e profissional, livre de indicações políticas e de qualquer influência. Comigo, a prefeitura vai priorizar a qualidade dos serviços públicos e se preocupar menos em fazer obras — disse o candidato, que em sua gestão como ministro foi alvo de investigações por envolvimento em casos de apadrinhamento político de membros do PRB nas superintendências da Pesca e Aquicultura.

Mais cedo, no programa eleitoral da tarde, Crivella retirou a imagem do cardeal arcebispo do Rio dom Orani Tempesta. Na terça-feira, a Arquidiocese do Rio protocolou uma representação no Ministério Público Eleitoral contra a campanha de Crivella. A entidade religiosa quer proibir a veiculação da imagem. Na semana passada, o candidato se envolveu em polêmica com os católicos após veicular panfletos com sua imagem ao lado de Dom Orani.

A assessoria de imprensa de Marcelo Crivella foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

 

O globo, n. 30370, 30/09/2016. País, p. 3