Lula quer "embaraçar" Lava-Jato

 

09/09/2016

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer “embaraçar” as investigações da Lava-Jato. É o que afirma o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, em reposta a uma reclamação apresentada pelo petista no STF. Zavascki negou o recurso apresentado pela defesa do ex-presidente, que questionava a atuação do juiz federal Sérgio Moro, responsável por conduzir as investigações da Lava-Jato na primeira instância.

“Neste contexto, é importante destacar que esta Corte tem amplo conhecimento dos processos (inquéritos e ações penais) que buscam investigar supostos crimes praticados no âmbito da Petrobras, com seus contornos e suas limitações, de modo que os argumentos agora trazidos nesta reclamação constituem mais uma das diversas tentativas da defesa de embaraçar as apurações”, escreveu o ministro.

A defesa de Lula recorreu ao Supremo contra três decisões de Sérgio Moro, que manteve sob sua competência três inquéritos que investigam o petista. O juiz negou três exceções de incompetência ajuizadas na 13ª Vara Federal, em Curitiba, pelos advogados de Lula.

Na decisão, Teori afirma que tramita no STF outra reclamação de Lula, na qual o petista “também alega usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal, sob o fundamento de que o juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba teria indevidamente mantido sob seu controle medida cautelar de interceptação telefônica envolvendo ministros de Estado, membros do Congresso Nacional e ministro do Tribunal de Contas da União”.

“Apesar de esses argumentos serem objeto de análise naqueles autos, tal quadro revela a insistência do reclamante em dar aos procedimentos investigatórios contornos de ilegalidade, como se isso fosse a regra”, anotou o ministro.

Na avaliação dos advogados de Lula, há “múltiplos procedimentos investigativos, autônomos, sobre os mesmos atos e seus conexos, em trâmite nas diversas instâncias”.

Teori Zavascki discordou da alegação da defesa, destacando que o inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal investiga a suposta participação de Lula em uma organização criminosa que desviava dinheiro da Petrobras — enquanto que a 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba apura outros fatos relacionados a possível recebimento de “vantagens indevidas”.

“Apesar de os fatos investigados no Supremo Tribunal Federal (…) possuírem correlação com aqueles que são objeto de investigação perante a 13ª Vara Federal de Curitiba, não houve demonstração da usurpação, pela autoridade reclamada, da competência desta Corte, tendo em vista que agiu conforme expressamente autorizado”, argumentou Zavascki.

Segundo o ministro, a 13ª Vara Federal de Curitiba “não emitiu qualquer juízo acerca da tipificação penal das condutas que seguem em investigação nos procedimentos objeto desta reclamação”.

“Não prospera a insurgência. Na decisão ora questionada, o magistrado de primeiro grau não admitiu as exceções de incompetência opostas pelo reclamante, sob o fundamento de que, ‘antes do oferecimento da denúncia, não se tem o objeto da imputação que é exatamente o que definirá a competência do juízo’ e, portanto, são prematuras as alegações de que ‘a suposta ocultação de patrimônio pelo investigado e os supostos recebimentos de benesses das empreiteiras Odebrecht, OAS e outras não têm qualquer relação com o esquema criminoso que vitimou a Petrobras e que é objeto da Operação Lava-Jato’”, escreveu Teori.

 

Outro lado

Por meio de nota oficial, a defesa de Lula afirma que o próprio Teori Zavascki, em outras ocasiões, já reconheceu ilegalidades praticadas por Moro na condução da Lava-Jato. “Isso ocorreu, por exemplo, no tocante à autorização dada para a divulgação de conversas interceptadas envolvendo Lula e, ainda, no tocante ao monitoramento dos advogados do ex-presidente”, diz.

O advogado Cristiano Zanin, afirma, no comunicado, que Lula sofre “clara perseguição pessoal e política”. Por isso, segundo ele, “tem o direito de usar dos instrumentos legais para impugnar decisões judiciais que estão sendo proferidas”. De acordo com Zanin, o ex-presidente é vítima de diversas “outras graves ilegalidades praticadas pelo juiz Sergio Moro”; e a decisão de Teori reforça o cabimento do comunicado feito à ONU em julho.

 

Correio braziliense, n. 19464, 09/09/2016. Política, p. 3