Ideb revela ensino ruim

 
09/09/2016
Jéssica Gotlib

 

A educação brasileira, em geral, continua avançando, mas a passos mais lentos que o esperado. É o que apontam dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ontem. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, do 1º ao 5º, as metas colocadas pelo Ministério da Educação (MEC) foram superadas em 2015, com o índice de 5,5 pontos na média nacional, batendo os 5,2 estipulados. No desempenho por unidade federativa, apenas Distrito Federal, Rio de Janeiro e Amapá ficaram aquém do esperado.

Nos anos finais, do 6º ao 9º, a evolução foi bem mais lenta e o índice nacional não é maior que o objetivo desde 2011 quando alcançou a nota de 3,9 frente aos 3,8 esperados para aquele ano. Em 2015, a nota ficou 0,2 ponto abaixo do objetivo, alcançando 4,5 contra o objetivo de 4,7. A diferença é a mesma da medida em 2013, quando o ideal era 4,4 e o real foi 4,2 pontos. Entre os estados, apenas cinco superaram a meta: Goiás, Ceará, Mato Grosso, Amazonas e Pernambuco.

Mas o pior quadro é o do ensino médio — cujos resultados não avançam desde 2011. Naquele ano, o nível alcançado foi exatamente o estabelecido, 3,7 pontos. O número se manteve em 2013, apesar de o MEC mirar em 3,9; e em 2015, quando o plano era alcançar o patamar de 4,3. Só Piauí e Goiás ficaram acima do ideal.

“É difícil a gente traçar uma causa única para esses números, mas é preciso que haja uma maior integração entre as políticas públicas definidas pelo ministério e a participação dos estados e municípios na efetivação delas. Nos anos iniciais, o Brasil alcançou a meta, mas, quando você vai para os anos finais, é bastante complicado. Não há nada para se celebrar, muito pelo contrário, o quadro é caótico”, enfatizou o ministro da Educação, Mendonça Filho, durante a coletiva de imprensa.

 

Modelo

Respaldado pela estagnação das notas do ensino médio, o ministro da Educação afirmou que a renovação do currículo deve começar em 2017. “Quero que o projeto de lei do deputado Reginaldo Lopes (PT/MG) seja votado e aprovado em regime de urgência ainda neste ano. Caso não haja essa possibilidade, vamos levar ao presidente Temer o pedido para que a mudança seja editada na forma de medida provisória. Uma reforma importante como essa não pode ficar esperando janela de oportunidade no Congresso”, afirmou Mendonça Filho.

Para ele, a mudança nos parâmetros legais será o início da reciclagem no currículo de nível médio brasileiro, pois ela permitirá a flexibilização da grade e a realocação de disciplinas. O ministro ressaltou ainda que a discussão curricular propriamente dita será feita em um segundo momento, como uma continuação dos debates da Base Nacional Comum Curricular.

 

Enem

Durante a entrevista coletiva, a presidente do Inpe, Maria Inês Fini, fez duras críticas ao uso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de ingresso nas universidades — o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). De acordo com ela, as diretrizes do Enem fazem com que ele não possa ser utilizado de espelho para o desempenho do ensino médio.  “O Enem está construído com base em um acordo feito com as universidades em 2009. Ele não é, como está no nome, um exame de autoavaliação para o ensino médio. E isso deverá ser mudado”, conclui.

Em nota divulgada por meio de assessoria de imprensa, o ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante afirmou que “o desmonte de políticas públicas, como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, Banco Nacional de Diplomas de Graduação, Programa Mais Educação, entre outras iniciativas, é marca da gestão Mendonça Filho e prova de que a educação, em especial para os mais pobres, não é prioridade do governo Temer”. A nota acrescenta que “não é acabando com programas e ações de reconhecido sucesso que o Brasil conseguirá dar o salto qualitativo necessário”.

 

Correio braziliense, n. 19464, 09/09/2016. Brasil, p. 6