Pronto para a posse

 
31/08/2016
Flávia Ayer

 

Coincidência ou não, o chá servido ontem no Palácio do Planalto foi de camomila, erva famosa pelas propriedades calmantes. Na véspera do julgamento final da presidente afastada, Dilma Rousseff, a sede do Poder Executivo estava em compasso de espera, aguardando o desfecho da votação do processo de afastamento pelo Senado. Apesar de o tom ser de cautela, o presidente em exercício, Michel Temer, rascunhava o discurso da posse e ensaiava minirreforma ministerial.

Temer deve discursar antes de embarcar para a China, onde participará da reunião do G20. Há a possibilidade, mais remota, de ele adiar o pronunciamento para a comemoração do 7 de Setembro, e ainda há a chance de um pronunciamento ser transmitido em rede nacional. O maior desejo do peemedebista, contudo, é se apresentar na Ásia como chefe de Estado definitivo, o que teria motivado pedidos para que senadores concluam a votação com a maior brevidade possível.

A expectativa é de que, no discurso de posse, que deve ocorrer no meio da tarde, ele reforce a mudança de governo interino para um governo definitivo e defenda a legitimidade do processo de julgamento de Dilma. Temer também deve sinalizar para a sociedade e para o empresariado os rumos de seu mandato.

O governo também estuda mudanças nos ministérios, a depender do resultado das votações no Senado e das negociações com partidos. Depois da posse, o presidente em exercício deve se reunir com ministros, mas para tratar do projeto da Lei Orçamentária Anual de 2017, que será entregue na quarta-feira ao Congresso Nacional. Logo depois, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, concederá entrevista. Com a ausência do presidente do país pela primeira vez, e sem um vice, assessores do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que assumirá o governo na ausência de Temer, foram ontem ao Palácio se inteirar sobre o funcionamento da sede do Executivo.

 

Retratos

Há protocolos que serão definidos somente depois de Temer retornar da China. Uma das formalidades que ficarão para depois é a foto presidencial, em que o presidente posa vestido com a faixa presidencial. A imagem seguirá o padrão oficial, mas pode ser usada alguma luz especial na produção.

Ficará a critério do presidente em exercício a escolha do local onde será fotografado. Entre as opções, estão o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República; o Palácio do Planalto; ou até mesmo o Palácio do Jaburu, onde ele mora atualmente. Por enquanto, o retrato de Dilma permanece na maioria dos gabinetes, embora tenha “sumido” de algumas salas.

Temer chegou ao Palácio do Planalto ontem às 9h32. A intenção era receber visitas, mas ele acabou cancelando a agenda, que previa reunião com o deputado Giacobo (PR-PR), às 10h. O entendimento foi de que, às vésperas do resultado do impeachment, seria mais adequado se voltar para trabalhos internos. Assim, o presidente interino passou o dia despachando com assessores. Não saiu do palácio nem para almoçar.

Assessores mais próximos afirmam que Temer não acompanhou ontem a sessão do impeachment. Isso porque teria ficado mais tranquilo depois do discurso de Dilma e da avaliação de que o pronunciamento não será capaz de alterar o quadro de votações. Em compensação, televisões de várias salas e gabinetes estavam ligadas na sessão do Senado, no dia em que acusação, defesa e senadores se posicionaram sobre o processo do impeachment.

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Busca por investidores

 

31/08/2013
Gabriela Freire Valente

 

Em meio às expectativas sobre o resultado da votação do afastamento da presidente Dilma Rousseff, o governo interino se preocupa com o futuro dos planos que estão em curso. A viagem à China, onde Michel Temer participa da cúpula do G20, é vista como um importante gesto simbólico para transmitir segurança a investidores internacionais. A ideia é aproveitar a agenda para atrair negócios e gerar empregos no Brasil.

Temer pensou até mesmo em ir a um seminário empresarial em Xangai antes da cúpula, mas, devido ao tempo escasso, a ideia foi descartada. O compromisso será coberto por membros do governo. Para isso, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e dos Transportes, Maurício Quintella, embarcaram ontem. Já Luis Antonio Balduino Carneiro, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, que está no país asiático desde o início da semana, participou ontem de um encontro com vice-ministros de Finanças e vice-governadores de Bancos Centrais do G20, em Hangzhou.

Com Temer, devem ir Eliseu Padilha, da Casa Civil; Henrique Meirelles, da Fazenda; José Serra, das Relações Exteriores; e o presidente do Senado, Renan Calheiros. A previsão é que a viagem leve cerca de 30 horas, com escalas apenas para abastecimento. Também era cogitado que um grupo pequeno de parlamentares integrasse o grupo. Maggi, cuja viagem já estava programada, deve permanecer na Ásia para um tour por sete países e só retorna ao Brasil no fim de setembro.

Além do fórum empresarial, o governo se preocupa em transmitir a segurança necessária em tratativas de alto nível, como os encontros bilaterais programados com líderes de Espanha, Itália, China e Emirados Árabes Unidos. Embora exista o interesse em participar da cúpula do G20 como ocupante oficial do Executivo brasileiro, o governo do peemedebista considera que a fase de preocupação internacional com a solidez da democracia brasileira já passou.

 

Normalização

A votação do impeachment interrompeu a fluidez da agenda internacional do Palácio, mas a expectativa é que o andamento das atividades volte ao ritmo normal no próximo mês e que os preparativos para a próxima cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que será sediada pela cidade indiana de Goa nos dias 15 e 16 de outubro, ocorra sem grandes turbulências.

O fortalecimento das relações comerciais com países asiáticos, em especial a China, é uma das prioridades da gestão de Temer. Apesar de as relações com o Japão serem consideradas boas, há uma preocupação em reforçar os laços com Tóquio, depois de a presidente Dilma ter cancelado visitas ao país, e a cúpula do Brics é vista como uma oportunidade para encaixar uma viagem presidencial ao arquipélago asiático.

 

Correio braziliense, n. 19455, 31/08/2016. Política, p. 5