Título: Dilma garante crédito
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Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2011, Economia, p. 13

Presidente sinaliza liberação de compulsórios e uso das reservas para combater a falta de recursos externos

Alertada pela equipe econômica para a escassez de linhas de crédito, que já começam a rarear para as empresas, a presidente Dilma Rousseff assegurou ontem que não vai deixar faltar dinheiro para os investimentos e o consumo. Se for preciso, o governo vai liberar parte do depósito compulsório que os bancos recolhem ao Banco Central (BC), abrindo espaço para novos empréstimos. Além disso, pode usar uma parcela das reservas internacionais para garantir os financiamentos. A dupla estratégia para irrigar o setor privado com os recursos necessários ao crescimento do nível de atividade é a retomada do que o seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, fez na crise de 2008 e 2009, quando as fontes externas secaram.

"Se faltar lá fora, temos dinheiro suficiente para garantir crédito às empresas, sem mexer em um centavo do Orçamento", disse a presidente na cerimônia de assinatura da concessão do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante (RN). No seu discurso, ela citou explicitamente os valores: os compulsórios bancários estão em R$ 440 bilhões e as reservas, em US$ 350 bilhões. Segundo especialistas, 70% dos recursos para as companhias dos países emergentes vêm de bancos da Europa. Às voltas com o risco de calote no Velho Continente e com os prejuízos na negociação da dívida da Grécia, essas instituições já se retraem. A área mais afetada deve ser o comércio exterior.

Dilma está particularmente assustada com os prejuízos que a crise europeia acarreta à economia brasileira, que ficou estagnada no terceiro trimestre e pode até andar para trás de outubro a dezembro. Por isso, mobilizou o Ministério da Fazenda, o BC e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para pensarem em medidas que garantam a retomada da expansão a um nível perto de 5% em 2012. O BC já reduziu a taxa básica de juros de 12,5% para 11,5% — amanhã, deve anunciar mais um corte de 0,5 ponto percentual. A presidente tem feito da necessidade de diminuir os custos do crédito e de apertar o acelerador um verdadeiro mantra. A exemplo do que fez na sexta-feira, ontem apelou para que os empresários não tenham medo de investir e os trabalhadores, de consumir.

Blindagem Apesar disso, o governo não tem feito o dever de casa: os investimentos públicos caíram 3,7% de janeiro a outubro, segundo os dados do Tesouro Nacional. No Rio Grande do Norte, ela voltou a mostrar sua crença de que o país vai reagir bem aos desafios impostos pela crise nos países desenvolvidos. "Nós amadurecemos economicamente. Somos um país que sabe crescer, mantendo a estabilidade", disse. De novo, a presidente afirmou que os graves problemas europeus significam uma oportunidade para os brasileiros. "Diante dessa crise, o Brasil tem todas as condições de continuar crescendo, com seu povo consumindo e suas empresas produzindo."

A ordem é estimular o mercado interno, que foi fortalecido com a ascensão de cerca de 40 milhões de pessoas à classe média, movimento que Dilma qualificou como uma "blindagem" contra o agravamento da crise. "O Brasil colocou no mercado consumidor o equivalente a uma Argentina", celebrou.