Título: Protestos derrubam gabinete do Kuweit
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2011, Mundo, p. 20

A Primavera Árabe causou mais uma baixa entre os regimes do Oriente Médio. Após derrubar ditadores na Tunísia, no Egito, na Líbia e no Iêmen, a revolta pró-democracia levou à renúncia o primeiro-ministro do Kuweit, xeque Nasser Al-Mohammad Al-Sabah. O emir Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah aceitou a renúncia do premiê e do gabinete, depois de duas semanas de protestos.

O prédio do parlamento, na Cidade do Kuweit, chegou a ser ocupado por milhares de manifestantes, no último dia 16. Por meio de uma carta, Nasser — sobrinho de Sabah — acusou "uma minoria de parlamentares" de promover a desunião, colocar em risco a integridade dos líderes e fabricar acusações infundadas. "Nessas circunstâncias, tornou-se impossível para o governo cumprir com suas responsabilidades e deveres", escreveu o premiê, de acordo com a agência local de notícias Kuna.

"Aguardamos a nomeação de um novo primeiro-ministro, antes da dissolução do parlamento", explicou à agência France-Presse o deputado da oposição islamita Khaled Al-Sultan. O Kuweit, que convive há duas décadas com a presença constante e numerosa de tropas americanas, é uma das monarquias da região mais expostas ao contato com valores e costumes ocidentais.

O cantor kuweitiano Humood Al-Khudher, 22 anos, considera a destituição do gabinete um bom sinal, mas vê nisso apenas um primeiro passo. "Queremos ter certeza de que o primeiro-ministro não estará de volta pela oitava vez", afirmou ao Correio, pela internet. Ele reconhece que o país está recebendo o impacto das manifestações pela democracia que varrem a vizinhança. "Não tenho certeza se o governo de Nasser teme a Primavera Árabe. No entanto, definitivamente, os protestos estão afetando os acontecimentos no Kuweit", comentou.

Retrocesso De acordo com Humood, o gabinete fracassou por não fazer com que o país progredisse. "Na verdade, sofremos retrocesso. A corrupção e o suborno tornaram-se desenfreados", afirmou. "Há poucos dias, as autoridades detiveram mais de 30 ativistas da oposição e ainda não os libertaram", acrescentou. As prisões teriam agravado as tensões no 10º maior exportador de petróleo do mundo.

"Eu espero que o emir satisfaça os anseios do povo, dissolvendo o parlamento e formando um gabinete de transição para supervisionar as eleições", declarou à rede de tevê Al-Jazeera o deputado oposicionista Fatah Al-Sawwagh. O xeque Nasser, sobrinho do emir, foi interrogado por três parlamentares sobre o desvio de verbas públicas para contas bancárias do exterior.