Presidente da Petrobras critica as regras de conteúdo local

Roberta Scrivano e Ana Paula Ribeiro

27/09/2016

 

 

Parente diz que ‘política não fez bem ao país’ e cita preços até 40% maiores. 

-SÃO PAULO- O presidente da Petrobras, Pedro Parente, fez duras críticas ontem à política que obriga a estatal a usar conteúdo nacional em contratos de concessão para exploração de petróleo e gás natural. Em reunião com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em que apresentou o Plano de Negócios e Investimentos da petrolífera, Parente subiu o tom ao ser questionado sobre as regras de conteúdo local:

— Essa política não fez bem ao país. Havia muita coisa errada, muito problema. Vou dar um exemplo. Nós tivemos um problema recente de uma plataforma que nós licitamos, e que, por força da exigência de conteúdo local, veio com um preço 40% acima do valor que avaliamos que custaria — afirmou, acrescentando que, no caso citado, a plataforma custaria US$ 1 milhão ao dia, mas ficou pronta com um valor bem superior ao estimado.

REGRA CONTRA CORRUPÇÃO

Para o presidente da Petrobras, esse exemplo comprova que a política de conteúdo local para os contratos do do pré-sal “tem muitos problemas”.

— Isso não dá, senhores. Vamos ser sinceros, qualquer um dos senhores que fosse proprietário dessa empresa não aceitaria isso. Como é que vamos pagar 40% acima de um custo que sabemos que pode ser 40% abaixo? — frisou.

Segundo Parente, a resposta mais exaltada se devia à “importância do tema, que merece ênfase”. Ele contou ainda que, ao ser convidado para assumir o cargo, o presidente Michel Temer pediu: “precisamos profissionalizar a Petrobras”.

Indagado por jornalistas sobre os problemas da estatal com desvios e fraudes em contratos, Parente listou as medidas já adotadas, que têm “o objetivo de acabar com a corrupção”. Destacou a criação de comitês estatutários e de uma comissão liderada pela ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie, além da segregação de funções: o funcionário que autoriza a despesa não pode autorizar o pagamento.

— Minha principal missão é pensar no presente e no futuro da empresa — completou.

Durante a apresentação na Fiesp, Parente reiterou que a empresa vai investir US$ 74,1 bilhões entre 2017 e 2021, valor 25% inferior ao plano anterior. A estatal também quer reduzir a relação entre dívida e geração de caixa de 5,3 vezes para 2,5 vezes até 2018.

Mais cedo, em palestra na Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP), Parente indicou que, passado o ajuste, a estatal voltará a pensar em expansão:

— Vamos investir na exploração de águas profundas, mas é possível retomar investimentos no exterior após esse período.

Ele ainda demonstrou preocupação com a adoção de mais práticas de controle, que, para ele, podem não ser eficientes no combate à corrupção.

— Temos controles baseados em regras e processos. Mas isso não reduziu a corrupção e não garantiu o melhor preço ou qualidade — disse, ressaltando que era a opinião dele como profissional do setor público e privado, e não como presidente da estatal.

 

O globo, n. 30367, 27/09/2016. Economia, p.23