Título: Execução de reféns pelas Farc comove o país
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2011, Mundo, p. 21

"A dor que sinto é infinita", desabafa Magdalena Rivas, 63 anos, por telefone ao Correio, de Bogotá. A mãe do major Elkin Hernández Rivas se preparava na tarde de ontem para receber o corpo do filho de 35 anos — capturado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 1998, e executado com três reféns, no sábado, durante uma operação de resgate malsucedida. "Elkin era um grande homem, um homem por inteiro. Meu filho era tudo para mim. Por isso, a dor tão grande que sinto. Se não posso tê-lo em corpo, eu o tenho em espírito, para suportar sua partida", acrescenta Magdalena.

O enterro de Elkin, do sargento José Libio Martínez, do tenente-coronel Edgar Yesid Duarte Valero e do intendente Álvaro Moreno deve ocorrer às 9h30 de hoje (12h30 em Brasília). Os caixões chegaram à capital colombiana na noite de domingo, envoltos na bandeira do país. Três dos mortos tinham marcas de tiros na cabeça e o quarto nas costas. Os corpos foram encontrados presos por correias, o que indica execução sumária. O destino dos sequestrados provocou comoção na Colômbia e instigou um debate sobre a eficácia de ações militares contra a guerrilha.

"Peço ao presidente Juan Manuel Santos que negocie com esses canalhas, responsáveis por tantas matanças. O importante agora é a negociação. Não precisamos de mais mortes", clama a mãe de Elkin, que promete trabalhar pela libertação dos outros sequestrados. "Por favor, presidente, ajude nossos entes queridos que ainda estão na selva a voltar para suas casas. Não mortos, mas vivos", emenda. O sargento Luis Alberto Erazo, único refém que sobreviveu à operação de salvamento, afirmou ao jornal colombiano El Espectador que "o resgate militar é uma obrigação do Estado".

Por e-mail, o ex-senador colombiano Luis Eladio Pérez — refém das Farc entre 10 de junho de 2001 e 28 de fevereiro de 2008 — mostrou-se cético em relação a um acordo com os rebeldes esquerdistas. "Não existe negociação de paz na Colômbia. Muito menos com a atuação selvagem da guerrilha, ao assassinar quatro sequestrados absolutamente indefesos, e com o governo insistindo nos resgates militares a sangue e fogo", afirma ao Correio. O ex-político lembra que 12 reféns ainda estão em poder das Farc, com o status de prisioneiros de guerra. As entidades da sociedade civil organizam uma grande manifestação contra a guerrilha, marcada para 6 de dezembro, em várias cidades do país.

Eduardo Bechara Gómez, especialista em gerenciamento de conflitos da Universidad Externado de Colombia, lembra que as execuções ocorreram após a morte de Alfonso Cano, comandante das Farc. "É um momento crítico para o grupo, em termos de enfraquecimento, mas também de grande incerteza para o país, com as Farc passando à liderança de Timoleón Jiménez, apelidado de Timochenko", explica, por e-mail. Ele aposta que a via do diálogo é cada vez menos provável, principalmente após o massacre de sábado. "As mortes tornam politicamente caro para o governo realizar propostas de negociação com a guerrilha, ante o forte rechaço da sociedade", comenta. Segundo Gómez, o fato de as Farc terem assassinado membros da força pública mantidos sob cativeiro por mais de uma década serviu de combustível para o repúdio popular. "A sociedade se mostra mais avessa à opção de uma negociação com a guerrilha."

A organização não governamental Anistia Internacional está preocupada com as mortes. "Se ficar confirmado que os quatro cativos foram assassinados nas circunstâncias descritas, isso representaria um crime de guerra", disse Marcelo Pollack, especialista da entidade sobre a Colômbia. "As Farc têm a obrigação de tratar de modo humano todos os membros das forças de segurança capturados", alertou.