Dilma Rousseff: "Voltaremos"

 

01/09/2016
Flávia ayer

 

Não houve espaço para lágrimas no discurso de Dilma Vana Rousseff no Palácio da Alvorada. A petista subiu ainda mais o tom das críticas ao que chamou de “segundo golpe de Estado que sofreu na vida”, no pronunciamento feito depois da aprovação de seu impeachment pelo Senado. Numa fala emocionada, porém combativa, a primeira mulher presidente do Brasil disse que quem toma o poder é “um grupo de corruptos investigados”, destacou os avanços de seu governo e revelou que não desistirá da luta. “Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano”, profetizou, cercada de correligionários e militantes.

“Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições”, disse a presidente, vestida com blazer vermelho, cor do PT. Segundo Dilma, o impeachment é uma “inequívoca eleição indireta” e esse processo atinge em cheio a democracia. Ela destacou ter sido eleita por 54,5 milhões de votos.

A petista afirmou que a decisão dos 61 senadores que votaram pelo impeachment ameaça políticas sociais e direitos trabalhistas. “O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido”, atacou.

Dilma lembrou sua trajetória de luta contra a ditadura militar e fez um apanhado dos avanços do PT no governo à frente de um processo que, segundo ela, “promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso país”. Um pouco afastado, quem assistia ao discurso era seu padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que escolheu gravata das cores da bandeira para acompanhar o desfecho do impeachment. Os senadores Gleisi Hoffman (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Fátima Bezerra (PT-RN) estavam ao lado da ex-presidente.

 

Inocência

No pronunciamento, a petista reivindicou, mais uma vez, sua inocência e reforçou que o partido ainda vai recorrer “em todas as instâncias possíveis”. Também chamou seus apoiadores à luta. “Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer”, reforçou. Às mulheres, Dilma afirmou que, com seu afastamento, o machismo e a misoginia mostraram suas “feias faces”.

À medida que senadores chegavam ao palácio, em especial Lindbergh Farias, eram recebidos por gritos de “me representa”. No Palácio da Alvorada, parlamentares e militantes seguiram a mesma linha de que a luta continua. Logo depois do discurso da presidente, ela foi almoçar com apoiadores. Do lado de fora, um grupo continuou protestando contra o resultado do Senado. Deputados e ex-ministros discursaram para militantes em frente ao Alvorada. O ex-ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, destacou a personalidade “guerreira” de Dilma, que animava muitos deles quando o desânimo batia. Militantes picharam uma parede na entrada do Alvorada com as palavras “Fora Temer golpista” e afixaram no quadro de avisos um cartaz escrito “Fora Temer”.

 

Frase

"Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições”

Dilma Rousseff, ex-presidente

 

Correio braziliense, n. 19456, 01/09/2016. Política, p. 6