Título: Até quando?
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2011, Cidades, p. 25

Mais de 40 pessoas perderam a vida na pista desde 2007. Enquanto isso, o poder público demora para tomar medidas que reduzam as tragédias

O Eixo Rodoviário, já conhecido como Eixão da Morte, continua a oferecer riscos a motoristas e pedestres. Em 2011, sete pessoas morreram ao longo dos 13km da rodovia, quase o mesmo número de vítimas de 2010, quando nove perderam a vida. Apesar de saber onde e como ocorrem as tragédias, o poder público se mostrar incapaz de pensar em soluções. As discussões são pontuais e, em geral, só ocorrem quando há colisões fatais, como a do último sábado, que registrou a morte de um bombeiro.

O Correio analisou o Anuário Estatístico do Departamento de Trânsito (Detran). Dos 26 acidentes fatais ocorridos entre 2007 e 2009 — 46 pessoas morreram até 2011 —, houve colisão frontal em apenas três (7%) ocasiões. Em 18 casos (69%), a causa das mortes foi o atropelamento. Os demais registros referem-se a batidas com objeto fixo (placas de sinalização e árvores) ou laterais e traseiras, com outros carros (veja arte).

Essas informações explicam por que boa parte dos especialistas em trânsito discorda da proposta do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de instalar muretas de concreto ao longo da faixa presidencial. O projeto foi motivo de embate entre o governo e a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico e Nacional (Iphan) há cerca de quatro anos. O instituto não recuou, pois a medida fere o tombamento de Brasília, e por acreditar que essa não é a alternativa.

Capitaneado pela Secretaria de Transportes, o DER, responsável pela via, modificou a proposta algumas vezes, mas com a ideia fixa de instalar diferentes barreiras no meio da faixa central: canteiro com flores, mureta de concreto e cones plásticos cheios de água, entre outros. Na queda de braço, a população é a única que, até hoje continua a perder.

Pedestres Para os estudiosos no assunto, a barreira só é eficiente para reduzir as colisões frontais. Mas pode aumentar as batidas laterais e traseiras, uma vez que o veículo acerta a mureta, volta para a pista e atinge outros carros. Quanto às mortes, no entanto, o impacto com esse tipo de objeto pode ser menos letal do que a colisão frontal. Além disso, os muros, o canteiro central ou os cones d"água não impedem a passagem de pedestres. As estatísticas mostram que as fatalidades por atropelamento são as mais frequentes.

Diante dos últimos acidentes graves no Eixão, o DER garante ter desarquivado o projeto "por diversas vezes". Em nota, o órgão de trânsito se esquiva da responsabilidade pelos acidentes na DF-002 e a atribui ao Iphan, "já que por diversas vezes apresentou soluções para este problema e não teve sucesso junto ao Iphan, que, representado pelo superintendente Alfredo Gastal, declara que não vê a reforma do Eixão como solução para o trânsito, mas afirma que receberá o projeto "sem preconceitos"". O superintendente de trânsito do DER, Murilo de Melo Santos, não detalhou o que está em estudo. "Os técnicos estão estudando alternativas a curto e a longo prazos. Não estamos inertes", afirmou.