Cármen Lúcia no STF: um bom exemplo

 

10/09/2016
Ophir Cavalcante Junior

 

A posse da ministra Cármen Lúcia na Presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) é um daqueles exemplos de meritocracia que julgávamos inexistente em um país pouco afeito a reconhecer o valor do trabalho, do conhecimento, do esforço e da obstinação pelo resgate dos princípios éticos. Não bastassem os profundos conhecimentos que a credenciaram como uma das juristas mais respeitadas de sua geração, a alma simples, humilde e cheia de “mineirices” confere a essa mulher, aparentemente frágil, uma força inesgotável de fazer o bem, especialmente porque conhece o drama humano.

Ao lado disso, Cármen Lúcia sempre foi de lutas, abraçando as grandes causas do Brasil e da Ordem dos Advogados (OAB) em defesa das liberdades e do aperfeiçoamento da democracia. Em tempo de eleições, é oportuno reproduzir aqui suas declarações que explicam, em boa medida, as origens da atual crise política: “Basicamente, falta transparência e verdade. Ao cidadão não se informa o necessário sobre quem é eleito, como é eleito, por que é eleito, para o que é eleito e até para quem alguém está sendo eleito”.

As pessoas, hoje, questionam se vale a pena ser ético, ser honesto, ter decência, não usar seu cargo para desviar dinheiro público. São tempos estranhos em que muitas das riquezas são obtidas não com o trabalho árduo, mas com golpes que subtraem o dinheiro público. Sendo assim, a trajetória de vida da ministra Carmen Lúcia deve inspirar a todos os brasileiros de bem, hoje e no futuro.

E essa força advinda do exemplo de vida de Cármen Lúcia, fica bem evidenciada quando, vocalizando o sentimento do cidadão brasileiro, demonstra a sua indignação com o que hoje vivemos em termos de seriedade com a coisa pública, conclamando a todos nós “a assumir a ousadia que os canalhas têm” e convocar para sairmos do conforto e lutar contra isso, pois o arrojo ‘‘não pode ser de pessoas que não cumprem as leis, que usam o espaço público para interesses particulares.”

No STF, os votos bem lavrados, muitas vezes com um toque poético, exteriorizam o compromisso da ministra Cármen Lúcia com o direito e com a Justiça ao sempre se pautarem na defesa dos direitos fundamentais, sobretudo em relação às liberdades democráticas. Mas, ao mesmo tempo, são compromissados com a transformação do direito como instrumento de diminuição das desigualdades.

Coragem, compromisso, obstinação na defesa da Constituição, Cármen Lúcia será a segunda mulher a presidir a mais alta corte de Justiça do país, depois da ministra Ellen Gracie. No presente contexto, temos a ministra Laurita Vaz presidindo o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Vale a pena refletir sobre esse fato. Hoje, as mulheres representam mais de 51% da população brasileira, sendo que nas carreiras jurídicas já são quase a metade. Elas se destacam em todas as profissões por méritos próprios e pelo compromisso em fazer o certo.

Isso reforça a crença na transformação de nossa sociedade e do nosso país. Uma transformação para melhor. O Brasil precisa de dirigentes com elevado espírito público e que nos conduzam ao destino de uma grande e próspera nação. A chegada de Cármen Lúcia à Presidência do STF demonstra que vale a pena, sim, ser ético, honesto e trabalhador. Que Deus a ilumine e ajude a reproduzir seu bom exemplo para que novas Cármens.

 

Correio braziliense, n. 19465, 10/09/2016. Opinião, p. 11