Comissão de Ética da Presidência vai investigar ministro da Justiça

Eduardo Barretto e Jailton de Carvalho

28/09/2016

 

 

Moraes antecipou operação da PF e tem 10 dias para se explicar. 

-BRASÍLIA- A Comissão de Ética Pública da Presidência abriu ontem processo para investigar o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, por ter dito que haveria uma operação da Polícia Federal nesta semana, sugerindo ter informações privilegiadas. Na manhã de ontem, Moraes foi repreendido pelo presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, durante rápida reunião fora da agenda oficial. Pelo menos para o presidente, o caso está encerrado. Em ato político em Ribeirão Preto (SP) — cidade do ex-ministro Antonio Palocci, preso um dia depois —, Moraes, que é filiado ao PSDB, afirmou a militantes do Movimento Brasil Livre que uma nova operação estava por vir.

— Pode ficar sossegado, (há) apoio total à Lava-Jato. Tanto que quinta teve uma (operação), sexta outra e esta semana vai ter mais. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar — comentou o ministro em conversa que foi filmada e divulgada na internet.

Alexandre de Moraes terá dez dias para prestar informações à Comissão de Ética, que abriu processo após denúncia do líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA). A própria comissão cogitou abrir um processo antes da denúncia de Florence, disse o presidente do colegiado, Mauro Menezes.

— Não preocupa apenas a comissão, mas a AGU, a CGU, todos os órgãos de controle, a Justiça Eleitoral. Há preocupação grande para evitar que qualquer autoridade se valha da sua condição para obter dividendos político-eleitorais por conta do cargo — afirmou o presidente da Comissão de Ética, que diz haver suposições de “manejo inadequado de posições privilegiadas”.

— Essa é uma matéria que não apenas deriva do código de conduta, como da lei de conflito de interesses — completou Menezes.

Temer se reuniu com o ministro da Justiça por cerca de dez minutos no Palácio do Planalto. O presidente teria cobrado explicações sobre as declarações de Moraes no último domingo, antevendo a operação que resultaria na prisão de Palocci. Segundo auxiliares do presidente, Temer ficou satisfeito e considerou o episódio superado. Procurado, o Ministério da Justiça não comentou o caso.

Além do pedido de investigação na Comissão de Ética, partidos de oposição enviaram representação à Procuradoria Geral da República pedindo que seja aberta investigação sobre a conduta do ministro. O PT afirmou que as investigações da Lava-Jato podem estar sendo controladas pelo governo. Em nota divulgada na última segunda-feira, a Polícia Federal disse que não avisa autoridades com antecedência sobre detalhes das operações. A PF informou que apenas solicita a permanência do ministro da Justiça em Brasília quando isso se faz necessário em função do perfil da operação que é deflagrada.

 

O globo, n. 30368, 28/09/2016. País, p.11