Brasil cai mais seis posições em ranking de competitividade

Ronaldo D’Ercole  

28/09/2016

 

 

País aparece em 81º lugar em lista de 138 avaliados pelo Fórum Econômico, pior resultado em 20 anos.

-SÃO PAULO- O Brasil voltou a despencar no ranking que avalia a competitividade dos países. De uma lista de 138 nações, aparece na 81ª colocação este ano, o que significou uma queda de seis posições em relação a 2015. Trata-se da pior posição do país em 20 anos. Desde 2012, quando atingiu sua melhor colocação — 48ª — o Brasil recuou 33 posições. Os dados constam do Relatório Global de Competitividade 2016-2017, divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC).

“Esta posição coloca o país abaixo de alguns de seus principais concorrentes e aponta para um agravamento da desaceleração do crescimento e da produtividade, indicando uma recessão de 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2016", destaca o estudo.

Entre os países do BRICs — grupo que, além do Brasil, inclui China, Rússia, Índia e África do Sul — o Brasil ficou na lanterna. A China aparece na 28ª posição, à frente da Índia, na 39ª, e da Rússia, a 43ª, enquanto a África do Sul é a 47ª.

Entre os parceiros latino-americanos, o Chile é o mais bem colocado, no 33º lugar, seguido de México, no 51º, Colômbia, em 61º, Peru, 67º, e Uruguai, 73º. Nesse grupo, o Brasil está à frente apenas da Argentina, que está na 104ª posição, e da Venezuela, que está na 130ª posição.

De acordo com o relatório, as crises econômica e política que se acentuaram desde 2014 impactaram diretamente a competitividade do país. Mas fatores estruturais e sistêmicos que minam a competitividade do país desde a década de 1990 continuam presentes: caso de sistemas regulatórios e tributários inadequados, e infraestrutura deficiente.

— O que o Brasil pode fazer para subir mais rapidamente no ranking? Basta resolver esses problemas do passado. O país está na 120ª posição no quesito instituições, na 126ª, em ambiente de negócios, que são considerados pilares básicos de competitividade. E é o último, 128º, em eficiência de mercado, 117º, em eficiência do mercado de trabalho. Nossa legislação trabalhista é completamente defasada em relação ao resto do mundo — observa Carlos Arruda, professor da FDC e coordenador da pesquisa no Brasil.

Para Arruda, as reformas em trâmite no Congresso podem levar o país a dar um salto:

— Se fizermos reformas como a trabalhista, a da Previdência e a tributária, o país dará um salto, como fizeram Índia, México e Colômbia.

Tais avanços internos, avalia Arruda, são ainda mais importantes diante das condições atuais da economia mundial, preocupantes, segundo ele, e que são desfavoráveis à maior inserção econômica do país no mercado internacional. Além do ainda baixo crescimento das economias centrais da Europa e dos Estados Unidos, com a China perdendo fôlego, o coordenador da pesquisa cita as reações às ondas migratórias, que exacerbam movimentos nacionalistas e acentua a tendência de os países fecharem suas economias.

— Há no mundo um sinal contrário à globalização. De maneira geral, em todos os blocos, dos mais pobres aos mais ricos, há uma tendência de menor abertura econômica. O que é preocupante, porque a base do estudo da competitividade são as condições que os países oferecem para que suas empresas possam competir nos mercados internacionais — avalia.

Nesse contexto, Arruda e o relatório advertem para a necessidade de as empresas brasileiras voltarem a investir em inovação.

— Deve-se atentar para o fim do ciclo da produtividade baseada na microeletrônica e na automação, e o Brasil caiu 16 posições no quesito inovação este ano, para a 100ª posição. Enquanto a digitalização dos processo produtivos cresce aceleradamente, é a indústria 4.0, com robótica avançada, a máquina falando com a máquina, a internet das coisas — ressalta.

Apesar das condições externas desfavoráveis e das incertezas internas, Arruda se diz otimista com as correções em curso na economia.

— Vai demorar um pouco para recuperarmos as posições perdidas, mas a direção está correta. Embora as empresas tenham parado de investir em meio às incertezas políticas e à crise econômica, há consciência de que a inovação é necessária. A consciência existe, mas a prática ainda não. A tendência é que, com as coisas um pouco mais estáveis, as empresas passem a buscar esses processos.

 

“Se fizermos reformas como a trabalhista, a da Previdência e a tributária, o país dará um salto”

Carlos Arruda

Professor da Fundação Dom Cabral e coordenador da pesquisa.

 

O globo, n. 30368, 28/09/2016. Economia, p.26