Queda de juros já em outubro

 
28/09/2016
Antonio Temóteo

 

As apostas do mercado de que o Banco Central (BC) cortará os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 18 e 19 de outubro, ganharam ainda mais força ontem, após a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Para os analistas, as afirmações do diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, indicam que há espaço para a queda da taxa básica de juros. A única dúvida é se a redução será de 0,25 ou de 0,5 ponto percentual.

Dados do RTI sugerem que a inflação de 2016 terminará o ano em 7,3% e chegará a 4,4% em 2017, abaixo da meta de 4,5%. Para 2018, a autoridade monetária estima que a carestia terá alta de 3,8%. Carvalho indicou que houve melhora no balanço de riscos para a inflação, caso do arrefecimento da alta do preço de alimentos aos consumidores. Apesar disso, ele destacou que o ritmo de queda do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), sobretudo o de serviços, ainda não chegou ao nível ideal. “Há sinais positivos também em relação ao encaminhamento e à apreciação das reformas fiscais”, ressaltou.

Para ele, a autoridade monetária tem autonomia para tomar a melhor decisão sobre a condução da política monetária, por meio de avaliações técnicas, calcadas em evidências. “Ao cumprir a meta de inflação, o BC dá sua melhor contribuição para a sociedade”, disse. No RTI, a previsão é de que o Produto Interno Bruto (PIB) terá uma retração de 3,3% neste ano, projeção pior do que a apresentada pelo Ministério do Planejamento no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, de queda de 3% na geração de riquezas no país.

A queda de juros na próxima reunião do Copom será de 0,25 ponto percentual, estimou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. Para ela, esse corte pode chegar a 0,5 ponto percentual se até a reunião do colegiado a Câmara dos Deputados iniciar a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior. “No balanço de riscos do BC, fica claro que houve avanço na inflação de alimentos e incertezas quanto ao ritmo de queda do IPCA e na aprovação do ajuste. Minha avaliação é que até outubro teremos avanços no Legislativo que favorecerão o corte da Selic”, ressaltou.

 

Percepção

As projeções do BC confirmaram a expectativa da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, de que os juros devem cair em outubro. Para ela, a chance de uma queda de 0,5 ponto percentual aumentou diante da evolução das expectativas para a inflação, que cederam desde o último encontro do Copom. Ela destacou que as avaliações de Carvalho em relação ao balanço de riscos foram favoráveis na medida em que a autoridade monetária não piorou sua percepção. “Não seria ousado um corte de 0,5 ponto percentual com o avanço da PEC do teto de gastos”, afirmou.

Há espaço para o corte de juros, avaliou o economista Alexandre Cabral, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA). Para ele, apesar das preocupações do BC com o ritmo de queda do IPCA e com o ajuste fiscal, há espaço para a flexibilização da política monetária. “A queda deve ser de 0,25 ponto percentual. Até lá o Copom terá dados da inflação de setembro e o IPCA-15 de outubro.”

 

Correio braziliense, n. 19483, 28/09/2016. Economia, p. 10