"Cidadão é autoridade suprema"

 

13/09/2016
Rosana Hessel
Eduardo Militão
Maria Eduarda Cardim

 

A ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, 62 anos, tomou posse ontem como a segunda mulher a presidir o Supremo Tribunal Federal (STF) cumprimentando, primeiramente, o “cidadão brasileiro”. Em tempos de aumento salarial para magistrados em pauta no Congresso, ela defendeu uma Justiça “menos custosa” ao contribuinte.

“Principio, pois, meus cumprimentos dirigindo-me ao cidadão brasileiro, princípio e fim do Estado, senhor do poder da sociedade democrática, autoridade suprema sobre todos nós servidores públicos”, afirmou a ministra.Cármen Lúcia afirmou que é preciso reduzir custos na Justiça.

Em um discurso contundente, o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, disse que a Corte se depara com “gravíssimos desafios”, não devendo perder a condição de “fiel depositário da permanente confiança do povo brasileiro”. Ao comentar o cenário político nacional, Celso de Mello atacou a “criminalidade organizada” e a “delinquência governamental”, ressaltando que a corrupção enfraquece as instituições e compromete a sustentabilidade do Estado.

Para a nova presidente do Supremo, o país precisa melhorar muito ainda. “Não temos o Brasil que queremos, o mundo que achamos que merecemos, mas que a nossa responsabilidade direta é colaborar em nossos desempenhos para construir.” Cármen Lúcia afirmou que as pessoas estão insatisfeitas com o funcionamento do Judiciário, mas que os magistrados têm consciência da situação.

Cármen prometeu lutar por uma nação mais justa e igualitária e disse que o “tempo é também de esperança”. “O Brasil é um compromisso”, afirmou. “O povo está cansado de fazer parte de uma nação do futuro que não chega nunca”, completou.

No fim do discurso, a ministra deu a entender que seu mandato será de mais ação. “Esquece-se muito do que dizem as pessoas, mas nunca se deslembra do que foi feito”, afirmou. Cármen Lúcia sucede Ricardo Lewandowski e vai ocupar o cargo pelos próximos dois anos. A ministra diz que a função de juíza do Supremo é “uma tarefa grata, mas também difícil”.

 

Autoridades

O presidente Michel Temer e a primeira-dama, Marcela, chegaram com seguranças às 15h19. Poucos minutos antes, quem entrou foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi a primeira vez que eles se encontraram após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A cerimônia ainda contou com a presença de outras autoridades, algumas investigadas na Operação Lava-Jato, em discussão no tribunal. Entre os presentes, estavam o ex-presidente José Sarney (PMDB), os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, disse que já admirava Cármen Lúcia. “Sua chegada à Presidência do Supremo representa um dos fatos políticos mais relevantes para a história do Brasil.”

"Não temos o Brasil que queremos, o mundo que achamos que merecemos, mas a nossa responsabilidade direta é colaborar em nossos desempenhos para construir”

“Sossegue-se o cidadao: o trabalho de entregar a Justica a quem busque Judiciário será levado a efeito com intransigente garantia dos principios constitucionais, firmados com o objetivo expresso de construírmos uma sociedade livre, justa e solidária”

“Em tempo de dores multiplicadas, há que se multiplicarem também as esperanças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos. Afinal, gente só não é capaz de fazer e melhorar o que não tenta. Temos sorte de sabermos que o Brasil que merecemos pode e há de ser construído”

Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal

 

Correio braziliense, n. 19468, 13/09/2016. Política, p. 5