Título: Escolta contra os protestos
Autor: Gama, Júnia; Alcântara, Manoela
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2011, Política, p. 8

Ruralista sai do Senado sob proteção durante a análise do Código Florestal. Texto será votado dia 22

A detenção de um manifestante e os tiros de pistola elétrica não foram capazes de conter a volta dos estudantes ao Senado para protestar contra a aprovação do novo Código Florestal. Na manhã de ontem, cerca de meia dúzia de universitários se reuniram perto do corredor onde os destaques ao texto estavam sendo analisados e gritaram palavras de ordem como "não nos representa" e "Senado, vergonha nacional". O principal alvo dos protestos era a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Pressionada, ela teve de deixar o Senado sob escolta.

"Acho um absurdo ser aviltada e achacada dentro da Casa em que trabalho", queixou-se a senadora, que foi seguida pelos manifestantes sob gritos de "Kátia Abreu não compra eu (sic)". Depois da arma de choque na terça-feira, a segurança foi reforçada para evitar que novos confrontos ocorressem. Os estudantes foram impedidos de entrar no corredor onde a sessão das comissões de Ciência e Tecnologia e de Agricultura funcionava.

Senadores criticaram o uso da pistola paralisante taser contra o universitário Rafael Pinheiro Rocha, que foi indiciado por desobediência e resistência. "Nada justifica a ação do policial que atirou contra o estudante", condenou o presidente da Comissão de Agricultura, Eduardo Braga (PMDB-AM). O relator do projeto na Comissão de Meio Ambiente, Jorge Viana (PT-AC), também lamentou o episódio. Ele ressaltou a necessidade de a Polícia Legislativa garantir a segurança no Senado "sem fazer uso dessas armas".

As críticas aos estudantes partiram do senador Reditario Cassol (PP-RO), que foi seguido por manifestantes exaltados na terça-feira, que o chamavam de "corrupto" e "bandido". "Aqui não é Casa de faroeste. Não admito que um covarde, que não deve saber o que é um Código Florestal, me xingue como fui xingado ontem." Os estudantes presentes à manifestação de ontem integram o mesmo grupo contra a retomada das obras no setor Noroeste. "É uma vergonha usar a força do governo para agredir o povo", defendeu o índio guarani Arajú Sepeti.

Cinco pessoas do Sindicato Rural de São João da Aliança também se manifestaram durante a votação. O grupo disse que viu pela televisão a ação dos estudantes e decidiu ir ao Senado para demonstrar a posição dos agricultores. "Se vocês quiserem acabar com as plantações, vão morrer de fome, porque nós é que produzimos o alimento que você comem", disseram.

Excessos Em entrevista ao Correio (leia ao lado), o estudante Rafael Pinheiro Rocha afirmou que não está descartada a possibilidade de processar o policial que disparou contra ele. A polícia do Senado reafirmou não ter havido excessos por parte da corporação e que o efeito desejado foi atingido com o uso da arma.

O reitor da Universidade de Brasília (UnB), José Geraldo, acredita que houve excesso dos agentes públicos. Logo após o fato, ele encaminhou um ofício ao presidente do Senado para pedir explicações sobre o caso. Para o conselheiro da OAB Délio Lins, o uso da arma de choque contra uma manifestação de estudantes é exagerado. "O taser é coisa de polícia e está sendo utilizado por pessoas sem o menor preparo", disse.

Em meio à polêmica pelo uso da arma, apenas uma emenda de redação foi apreciada ontem. As outras 20 serão analisadas pela Comissão de Meio Ambiente, que marcou para o dia 22 a votação do texto. Audiências públicas sobre os impactos do Código Florestal estão sendo promovidas até o fim desta semana.