Valmar Hupsel Filho, Marianna Holanda e André Ítalo Rocha
31/10/2016
Região onde o partido nasceu não terá petista em nenhum dos sete municípios.
Com o insucesso dos dois únicos candidatos do PT no ABC paulista, ambos prefeitos que tentavam a reeleição, o partido não vai administrar prefeituras no seu berço político a partir de janeiro de 2017 – um fenômeno que ocorre pela primeira vez desde 1982. Dos quatro municípios da região que tiveram segundo turno, dois elegeram prefeitos do PSDB, um do PSB e um do PV.
Nas outras três cidades que formam o ABC – São Caetano do Sul, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra –, a legenda também não elegeu prefeitos.
São Bernardo do Campo, a maior cidade da região, escolheu ontem Orlando Morando (PSDB). Ele obteve 59,94% dos votos válidos, contra 40,06% de Alex Manente (PPS).
Morando disse que uma das suas primeiras medidas será fazer uma reforma administrativa, com imediata redução do número de secretarias e de cargos comissionados, e acabar com regalias como carro oficial. “Todos aqueles petistas que vieram do Brasil inteiro e que estão em cargos comissionados vão retornar para suas cidades de origem.” O prefeito eleito de São Bernardo do Campo creditou a derrota do PT no ABC à alta taxa de desemprego. “O PT ganhou representação política nacional, porque representou os trabalhadores e se tornou o partido que mais gerou desemprego no País.
São Bernardo tem 18% da população desempregada, enquanto no Brasil são 12%”, disse.
Em Santo André, os eleitores escolheram Paulo Serra (PSDB) para administrar a cidade nos próximos quatro anos. O tucano obteve 78,21% dos votos, contra 21,79% do atual prefeito, Carlos Grana (PT). O petista ficou, praticamente, com o mesmo número de votos do primeiro turno.
Secretário de Obras e Serviços Públicos da gestão municipal petista até o meio de 2015, Serra deixou o PSD e entrou para o PSDB no ano passado.
Ele disse que se “surpreendeu muito” com o número de votos que teve, porque não esperava votação tão expressiva. Para Serra, o PT errou “por trair a confiança” do eleitor. “É um partido que foi criado com princípios éticos, em uma gestão que seria com a participação de todos e, na prática, não foi isso o que se verificou. A gestão tem de ser para todos”, afirmou.
‘Otimismo’. Mesmo com a derrota, Grana usou tom otimista ao falar com militantes. Disse que é preciso ficar atento a essa “onda de direita que tomou conta do País”. Como nova oposição, pediu que petistas e partidos aliados se articulem para que não haja retirada de direitos.
Ele afirmou ainda que o PT não foi um partido criado só para disputar eleição. “Precisamos reconstruir nossa relação com a sociedade. Recuperar a credibilidade e não vejo outro forma a não ser recuperar os princípios que nortearam a criação do partido”, disse.
Em Diadema, onde o PT elegeu o primeiro prefeito de sua história (Gilson Menezes, hoje no PDT, em 1982), Lauro Michels (PV) foi reeleito com 57,7% dos votos válidos, derrotando o candidato Vaguinho, do PRB, com 42,3% dos votos.
Em Mauá, Átila Jacomussi (PSB) foi o mais votado. Ele obteve 64,47% dos votos válidos, contra 35,53% do atual prefeito, Donisete Braga (PT). “Esta cidade iniciou uma nova era”, disse Jacomussi após a vitória.
Santo André. O tucano Paulo Serra discursa após ser eleito.
São Bernardo. Também tucano, Morando festeja a vitória.
O Estado de São Paulo, n. 44939, 31/10/2016. Política, p.A7