Valor econômico, v. 17, n. 4119, 26/10/2016. Empresas, p. B3
Ibama prevê que nova onda de lama ameaça o rio Doce
Por: Marcos de Moura e Souza
Uma nova onda de lama e rejeito de minério de ferro da Samarco deve avançar mais uma vez pelo Rio Doce, em Minas Gerais, e chegar até o Espírito Santo. A avaliação é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que apresentou ontem um balanço das ações e dos problemas ainda existentes quase um ano depois da tragédia da mineradora, em Mariana (MG).
A presidente Ibama, Suely Araújo, afirmou que órgãos ambientais têm trabalhado, desde o início, com o que chama de cenário pessimista. Ou seja, que as obras de contenção que a Samarco está fazendo em sua área de mineração não ficariam prontas a tempo da temporada de chuvas e que o nível das chuvas seja elevado este ano.
"No pior cenário, de chuvas enormes, o que a gente está vendo é que cerca de 2 milhões de metros cúbicos [de rejeito e lama] passariam para o Espírito Santo. Os órgãos ambientais estão trabalhando desde o início com essa possibilidade de cenário pessimista de, na época da chuva, poder ocorrer passagem de lama", disse Suely na manhã de ontem em Belo Horizonte. "Não tenho bola de cristal, mas provavelmente sim", disse ela ao ser perguntada se nesse cenário de chuvas acima das médias históricas a lama chegaria ao litoral capixaba.
As estimativas da Samarco são de que, em 5 de novembro de 2015, quando uma de suas barragens, a de Fundão, se rompeu, 32 milhões de metros cúbicos de lama e rejeito de minério de ferro escorreram pelo Rio Doce. Parte disso chegou ao Atlântico. O desastre ambiental causou uma tragédia sem precedentes e 19 mortes.
Haveria ainda, segundo a Samarco, 13 milhões de metros cúbicos no que restou do reservatório de Fundão e em outras áreas até o lago da hidrelétrica de Candonga. A usina fica no bacia do Rio Doce. A Samarco pertence à Vale e à BHP Billiton.
A empresa diz manter equipes trabalhando 24 horas por dia na construção de uma série de barreiras e diques para conter eventuais deslizamentos de lama e rejeito neste período de chuvas e o carreamento desse material pelos rios. E diz que a maioria das obras estará pronta até o fim do ano.
Além de uma nova camada de rejeito nas águas, um risco que ainda não é descartado pelo Ibama é que um volume muito grande de água e rejeito pressionem a hidrelétrica a ponto de derrubá-la. "Dizer que tem chance zero de qualquer problema à estrutura de Candonga, chance zero a gente não afirma. A gente está fazendo um esforço enorme para que seja zero mesmo, hoje a gente trabalha como totalmente improvável qualquer problema de rompimento", disse Suely.
A hidrelétrica, da Vale e da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) informa que "vem monitorando a sua barragem e, de acordo com as avaliações realizadas e nas presentes condições, a barragem está estável". O superintendente do Ibama em Minas, Marcelo Belisário, acrescentou: "É um cenário [o do rompimento da usina de Candonga] que não pode ser descartado". Mas que, hoje, é considerado "improvável".
Ontem, noutra frente de problemas para a Samarco, a agência de classificação de risco S&P Global rebaixou o rating da emissão de notas sênior com vencimento para 2023. A nota caiu de 'CC' para 'D', que significa calote. A revisão foi feita depois que Samarco não pagou os juros dos títulos até o prazo final, que foi segunda-feira.
A Samarco tem agora mais 30 dias para fazer o pagamento, mas dada sua atual situação difícil e a classificação de calote, o cumprimento dessas obrigações parece improvável, segundo a S&P. A agência já havia rebaixado a nota da empresa em 28 de setembro, quando ela não pagou os juros de notas com vencimento em 2024.