Valor econômico, v. 17, n. 4119, 26/10/2016. Brasil, p. A4
Serra nega que país seja tão 'fechado' e diz que câmbio valorizado atrapalhou
Por: Arícia Martins
O fato de a economia brasileira ser apontada como a mais fechada do mundo é discutível, na avaliação de José Serra, ministro das Relações Exteriores. Segundo ele, comparando o total de impostos sobre importações em relação ao valor total das compras do exterior, não há uma distância tão grande do Brasil em relação a outros países.
Segundo ele, o país também está atrás de várias outras economias na imposição de barreiras não tarifárias, como subsídios agrícolas e barreiras técnicas. Na Noruega, por exemplo, os subsídios à agricultura chegam a 80%, citou. Serra participou de um fórum sobre comércio exterior em São Paulo.
De acordo com Serra, entraram em vigor 174 medidas sanitárias e fitossanitárias nos Estados Unidos entre janeiro de 2013 e junho de 2016, 45 na União Europeia, 35 no Canadá, e apenas 22 no Brasil. Já em relação a barreiras técnicas, foram 200 nos EUA, 74 na China, 60 no Canadá, 14 na UE e 15 no Brasil.
O ministro também observou que a valorização da moeda nos últimos anos jogou contra a ampliação do comércio exterior. Segundo Serra, a participação do comércio exterior no PIB brasileiro, de 11%, é uma das mais baixas do mundo, o que está relacionado às dimensões do país, que é uma economia continental, e também ao custo-Brasil, que tem três componentes: tributação, custo financeiro e de infraestrutura. O governo, afirmou, está dando prioridade às concessões e à reorganização institucional do comércio exterior, com o fortalecimento da Camex.
Para Serra, a eventual saída da Venezuela do Mercosul não teria impacto nenhum para o Brasil. "A Venezuela já não participa praticamente [do bloco]", afirmou.
Segundo Serra, o Brasil tem um acordo de comércio exterior engatilhado com a Colômbia na área têxtil e de siderúrgicas. "Por algum motivo que não sei direito, a Venezuela tem que rubricar [esse acordo], e não rubrica, e não anda, e por quê? Eu não sei", criticou.
O governo deseja que a Venezuela tenha uma saída democrática do Mercosul, afirmou Serra, que se disse esperançoso com o diálogo entre o país e o Vaticano. O papa Francisco recebeu o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na segunda-feira.
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, afirmou que o governo está se esforçando nas negociações bilaterais com os principais players globais, mas previu que o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia só deve sair em 2018.
Apesar do empenho de alguns participantes, como a Espanha, as eleições na Alemanha e na França representam um entrave para que o acordo seja fechado até 2017, disse. A próxima rodada de negociações deve ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano, mencionou o ministro.