Em seis meses, fundos têm rombo de R$ 84 bi

 

13/09/2016
Antonio Temóteo

 

Florianópolis — Nem a recuperação da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) no primeiro semestre de 2016 evitou que o deficit acumulado dos fundos de pensão crescesse no período. Dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) mostram que o rombo chegou a R$ 84 bilhões. O prejuízo cresceu 9,5% em relação ao resultado da mesma época de 2015, quando a necessidade de financiamento chegou a R$ 76,7 bilhões. O levantamento ainda apontou que pelo menos 93 fundações estavam no vermelho nos seis primeiros meses do ano.

Somente em junho, a bolsa registrou alta de 6,3% e no primeiro semestre acumulou valorização de 18,86%. Entretanto, o que se viu no período foi uma posição mais conservadora dos gestores de fundos de pensão. Diante dos prejuízos, as entidades fechadas de previdência complementar aumentaram de 70,7% para 72% o total de ativos aplicados em renda fixa. Com isso, a participação em renda variável encolheu de 18,5% para 17,7%. Atualmente, as fundações possuem um patrimônio de R$ 763 bilhões, que corresponde a 12,8% do Produto Interno Bruto (PIB).

Boa parte do deficit dos fundos de pensão se concentra nas três maiores entidades fechadas de previdência complementar. A Previ, dos empregados do Banco do Brasil, amargou, no ano passado, prejuízo de R$ 16,1 bilhões. A Funcef, da Caixa Econômica Federal, de R$ 8 bilhões. E a Petros, da Petrobras, teve um resultado negativo de R$ 23,1 bilhões. Somente nos três casos, o rombo chegou a R$ 47,2 bilhões, o equivalente a 61,5% do deficit acumulado pelo setor em 2015. Como nem todas as entidades publicam mensalmente a evolução dos resultados não é possível saber como está esse percentual.

O presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto, explicou que o deficit das entidades, no período, pode ser explicado pela rentabilidade inferior à necessária para as fundações baterem as metas. Segundo ele, nos planos de benefícios definidos — em que os participantes sabem o valor do seguro que receberão no momento da aposentadoria — o rendimento médio foi de 8,28%, abaixo dos 8,44% atingidos, em média, por todos os fundos de pensão.

O executivo lembrou também que o número de entidades superavitárias cresceu no período. Passou de 127, em dezembro, para 129, em junho. Além disso, o saldo positivo acumulado por esse grupo passou de R$ 13,9 bilhões para R$ 16,8 bilhões, alta de 20,8%. “Estamos vindo de três ou quatro anos ruins e esperamos voltar a bater a meta atuarial”, disse Pena Neto.

 

Regulação

Em meio às investigações da Operação Greenfield, que investiga fraudes em fundos de pensão de estatais, a Abrapp lançou ontem, durante 37º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, um código de autorregulação de governança de investimento. As entidades que aderiram ao manual e comprovarem que seguem boas práticas de gestão receberão um selo da associação. “Não temos poder de punir as entidades. O que propomos é uma adesão voluntária, mas os que aderirem terão que se comprometer a cumprir o combinado”, explicou o presidente da associação.

Pena Neto ainda detalhou que as fraudes investigadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público (MPF) são um ponto fora da curva e não uma realidade em todo o sistema. Ele alertou que com a queda de juros que se vislumbra a curto prazo, os fundos de pensão deverão voltar se arriscar mais, mas se depararão com uma maior volatilidade, característica desses tipos de investimento. “Os juros cresceram e os fundos fugiram desses riscos. Neste ano, já começa a ter um cenário de queda de juros e os fundos precisarão tomar mais risco. O título público já está pagando juros inferiores à meta atuarial média”, explicou.

Os fundos estruturados, foco da Greenfield , serão uma opção de investimento, mas os gestores tomarão ainda mais cuidados na hora de aprovar essas aplicações. Os aportes em investimentos estruturados representam 2,7% do patrimônio total das entidades. Até dezembro de 2015 eles correspondiam a 2,9% e em dezembro de 2014 eqüivaliam a 3,3% dos ativos dos participantes.

O presidente da Abrapp ainda defendeu que a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) precisa ser transformado em um órgão de Estado, no qual os diretores têm mandatos. Conforme ele, atualmente isso não existe e os dirigentes do xerife dos fundos de pensão podem ser substituídos por meio de uma canetada presidencial.

Pena Neto defendeu, ainda, o papel  que a previdência complementar tem de liberar recursos públicos e desonerar o Estado. “Esperamos uma reforma da Previdência que não seja um mero aperto de botões para resolver o problema de contas púbicas.”

 

*O repórter viajou a convite da Abrapp

 

Projeção

O total de participantes dos fundos de pensão deve sextuplicar nos próximos 20 anos, estima a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Os executivos do setor apostam que o crescimento será impulsionado pela criação de planos instituídos, criados por associações de classe em que não há contribuição de patrocinadores. Atualmente, 2,5 milhões de brasileiros participam de uma fundação. A meta é que esse número cresça para 15,3 milhões até 2036. A Abrapp estima que 3 milhões de trabalhadores do setor privado podem aderir a planos de benefícios.

 

Correio braziliense, n. 19468, 13/09/2016. Economia, p. 8