Empreiteiro confirma propina para Gim

 

14/09/2016
Eduardo Militão

 

O ex-presidente da OAS José Adelmario Pinheiro, o Léo Pinheiro, prestou um depoimento não previsto inicialmente na ação penal contra o ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF) e complicou a situação do parlamentar. Preso desde 12 de abril, o ex-vice-presidente da CPI mista da Petrobras e ex-vice-líder do governo Dilma, às vésperas do fim do processo criminal, foi acusado de exigir propina em troca de proteção da comissão de inquérito. A partir de 5 de outubro, o juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, deve receber as alegações finais da acusação e das defesas dos réus para começar a escrever a sentença do caso.

Durante cerca de duas horas, o ex-presidente da OAS acusou Gim; o ex-presidente da CPI da Petrobras, ex-senador pelo PMDB e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo Filho; e o deputado Marco Maia (PT-RS); de pedirem dinheiro em troca de blindagem no Congresso. Ele afirmou que até o então ministro das Relações Institucionais do governo Dilma Rousseff, Ricardo Berzoini, exigiu que as empreiteiras colaborassem com a comissão de inquérito a fim de não prejudicarem o Poder Executivo (leia mais na página 3). Todos têm negado as acusações, como fizeram ontem depois do depoimento de Léo Pinheiro — já condenado a 16 anos de prisão por corrupção em esquemas na Petrobras, detido no Paraná sob acusação de pagar propina a parlamentares e personagem de uma fracassada tentativa de delação premiada com o Ministério Público.

Segundo a acusação do MP, Gim pediu R$ 35 milhões a sete empreiteiros, e obteve pelo menos R$ 7,2 milhões, a fim de protegê-los na CPI. De acordo com Léo Pinheiro, ele não estava sozinho na empreitada, e sempre era acompanhado por Vital.

Na audiência com Sérgio Moro, Léo Pinheiro afirmou que os pagamentos feitos a Gim — que totalizaram R$ 350 mil — eram propina, e não apenas uma doação a uma paróquia de Taguatinga que ele congregava. “Eu tratei com o senador Gim Argello”, contou o ex-executivo. “Ele me pediu o valor. Eu disse que daria. Ele me disse que era entidade religiosa que ele tinha relacionamento e que politicamente era muito importante essa doação e que seria abatido dos pagamentos que tinham sido acordados para o senador Vital do Rêgo.”

A audiência foi marcada a pedido da defesa de Pinheiro. Denunciado com outras nove pessoas no processo, Pinheiro ficou em silêncio quando recebeu a convocação para ser ouvido, um dia depois de perder a colaboração premiada com o Ministério Público. Preso na semana passada, o ex-executivo resolveu falar mesmo sem ter as garantias dos benefícios da delação. “Eu cometi crimes e, para o bem da Justiça do nosso país, para o bem da sociedade, eu estou aqui para falar a verdade e dizer tudo o que eu sei.” Quase em tom de ameaça, um dos donos da OAS disse que isso envolveria outras pessoas. “Eu sei dos crimes que eu cometi. Direi todos os que eu cometi e seja quem for (que estiver) do outro lado.”

 

Imunidade

Em seu depoimento a Moro, Gim havia dito que Léo Pinheiro sempre aparecia em reuniões com empreiteiros que ele combinava com o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. A iniciativa de vir à casa do então senador era do empreiteiro, segundo o ex-parlamentar. No depoimento de ontem, Léo Pinheiro disse que era Gim quem o “convocava” para os encontros.

O advogado de Gim, Marcelo Bessa, questionou se o ex-presidente da OAS ainda pretendia obter uma delação e se beneficiar de alguma imunidade dos crimes que confessava. O réu preferiu não responder. A defesa do ex-senador tem dito que os pedidos de dinheiro foram feitos como doações eleitorais e sem relação com a CPI. Citam um depoimento de Julio Camargo atestando que Gim asseverou isso. Ontem, Pinheiro confirmou que, num primeiro encontro, o ex-parlamentar não relacionou as doações à CPI. A defesa de Gim informou que vai se pronunciar apenas nas alegações finais.

 

Denúncia contra Gleisi será julgada dia 20

A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) colocou em pauta o julgamento da denúncia contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), acusada de receber R$ 1 milhão do esquema de propinas instalado na Petrobras para sua campanha em 2010. Também são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro o ex-ministro Paulo Bernardo (governos Lula e Dilma), que é casado com Gleisi, e o empresário Ernesto Kugler Rodrigues. O julgamento foi marcado para a próxima terça-feira. A Corte já havia marcado o julgamento, mas adiou a sessão por causa do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), no Senado. Os ministros vão analisar a denúncia da Procuradoria-Geral da República. Se aceitarem a acusação, Gleisi, Paulo Bernardo e o empresário viram réus.

 

Correio braziliense, n. 19469, 14/09/2016. Política, p. 2