Título: Até falso estudante invadiu reitoria da USP
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2011, Brasil, p. 14
Das 73 pessoas presas por ocupar prédio da Universidade de São Paulo, oito não são alunas da instituição de ensino, segundo a polícia. Grupo poderá ter que arcar com os prejuízos no local, como equipamentos de informática quebrados e paredes pichadas
São Paulo — Pelo menos oito das 73 pessoas que foram presas e liberadas após pagamento de fiança por terem ocupado durante 12 dias o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) não são estudantes da instituição, segundo divulgou ontem a 91ª Delegacia de Polícia da capital. Três são alunos de outras universidades e cinco, funcionários do câmpus. "Eles não estão aqui para dar segurança, mas para espionar os movimentos políticos", disse o estudante de história Fábio Abreu, 23 anos. Os alunos que não pertencem à USP não quiseram justificar em depoimento porque faziam parte da ocupação do prédio.
Enquanto os detidos eram liberados, estudantes decidiram, na noite de terça, iniciar uma greve. A reitoria informou, no entanto, que o calendário de atividades da instituição será mantido. E a posição ganhou força no início da noite de ontem, quando os professores decidiram, em assembleia, não aderir à paralisação dos alunos.
Por meio de advogados do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), os estudantes fichados pela polícia ficaram sabendo que poderão ser indiciados por dano ao patrimônio público e por desobedecer a uma ordem judicial, de desocupação da reitoria. Três pais compareceram à delegacia para buscar os filhos e pediram que o delegado retirasse a queixa, alegando que eles não participariam mais de protestos dentro da cidade universitária. As solicitações foram negadas.
Um grupo de auditores inspecionou ontem o prédio ocupado. Além de paredes pichadas, móveis foram danificados, janelas quebradas e equipamentos de informática destruídos. A reitoria faz um inventário para chegar a um valor total do prejuízo e responsabilizar as 73 pessoas detidas na madrugada da última terça-feira. O diretório estudantil, que tinha representantes na ocupação, nega que os alunos tenham destruído qualquer objeto. "Pelo contrário. Nós tivemos mais cuidado porque já sabíamos que eles iriam alegar esses danos. Nós temos tudo filmado", garantiu o aluno de letras Marcello Vasquez, 25 anos.
O uso de imagens, aliás, transformou-se no novo embate entre policiais e manifestantes. Ontem, em vídeos divulgados por estudantes, há depoimentos de pessoas denunciado emboscadas e excesso de força por parte de integrantes do Batalhão de Elite da Polícia Militar. Já na gravação divulgada pela PM, militares narram a operação afirmando que foi feita uma barreira policial entre o Conjunto Residencial da USP (Crusp) e o prédio ocupado para impedir a entrada de estudantes na reitoria. Segundo o major Marcel Soffner, não houve agressões. "O cerco foi medida preventiva."
Mas os moradores do Crusp alegam que, durante a operação, que contou com cerca de 400 policiais, eles foram impedidos de saírem de suas moradias. Bombas de gás lacrimogêneo teriam sido usadas para evitar a movimentação. No prédio, a frase Fora PM, pichada em letras garrafais, indica o descontentamento dos moradores com a ação da Tropa de Choque. O major Marcel Soffner alega que o gás foi empregado "para evitar mal maior". Segundo ele, não foram usadas armas letais e nenhum tiro foi disparado contra os alunos. "Não houve feridos", afirma. Cerca de 50 homens fazem a segurança da reitoria e vigiam as principais entradas de acesso da cidade universitária.