Valor econômico, v. 17, n. 4118, 25/10/2016. Empresas, p. B4

Brasil pressionará Canadá na OMC por causa da Bombardier

Por: Assis Moreira

 

O Brasil aumentará hoje a pressão sobre o Canadá na Organização Mundial do Comércio (OMC), elevando sua contestação aos subsídios que o governo canadense concede para a Bombardier, concorrente da Embraer no mercado de jatos regionais.

A inquietação brasileira aumentou com o anúncio da Bombardier de demitir 7.500 funcionários, 10% de sua mão de obra, porque isso demonstraria que continuará precisando de dinheiro público para sobreviver, sem previsão de retorno do pagamento.

Valor apurou que a delegação brasileira vai oficializar, no Comitê de Subsídios e Medidas Compensatórias, questionamentos específicos sobre cada programa que beneficia a Bombardier. Na prática, pavimenta o terreno para o que pode ser um novo contencioso de forte dimensão na indústria aeronáutica.

Recentemente, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, reclamou que a Bombardier estava subsistindo graças a US$ 4 bilhões de subvenções dadas pelo governo canadense, numa situação desleal para a Embraer.

O governo do Quebec pressiona o governo federal para fazer uma injeção adicional de US$ 1 bilhão no desenvolvimento do jato C-Series, num movimento monitorado de perto pelos concorrentes. Na prática, a Embraer enfrenta agora a concorrência do Tesouro canadense, afetando brutalmente as condições de venda.

A companhia brasileira já perdeu encomendas para a Bombardier, porque a empresa apareceu com preços até 30% mais baixos, conforme cálculos de analistas. Autoridades do Quebec não esconderam recentemente que sua injeção de capital na Bombardier foi essencial para o construtor ganhar uma encomenda bilionária da Delta Airlines, dos EUA, que deu fôlego ao projeto do C-Series.

Outras disputas foram ganhas para vender jatos regionais para Air Canada, Air Baltic e mesmo para a Lufthansa.

Hoje, o Brasil oficializará questionamentos específicos em comitê da OMC sobre cada um dos subsídios que a Bombardier vem recebendo, a começar pela entrada direta do governo no capital da companhia.

O Canadá será instado a explicar por que a Bombardier recorre à ajuda do governo federal e do Quebec, em vez de buscar o mercado comercial. O "Investissement Canada", orgão do Quebec, fez recentemente ajustes nos termos de seu acordo com a Bombardier, algo colocado também sob suspeita.

Além disso, os canadenses vão precisar explicar se recursos foram fornecidos para o construtor aeronáutico desenvolver seu novo jato por meio do Strategic Aerospace and Defense Initiative (Sadi) e do Technology Partnerships Canadá (TPC). Bombardier reduziu pela metade a projeção de entrega de jatos de seu C-Series e reconheceu que sua receita será menor do que anunciado previamente.

Recentemente, Serra afirmou que a decisão de denunciar formalmente o Canadá na OMC continuava em estudos e dependia também da estratégia da própria Embraer.