Valor econômico, v. 17, n. 4115, 20/10/2016. Política, p. A6

Prisão não deve afetar votação do 2º turno da PEC 241

Ação da Polícia Federal fez com que deputados desistissem de votação sobre Pre-sal

Por:  Thiago Resende e Raphael Di Cunto

 

A sessão do plenário da Câmara dos Deputados de ontem foi cancelada logo após a notícia da prisão preventiva do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas líderes da base aliada avaliam que nada muda em relação às perspectivas de votações na Casa das reformas que o Palácio do Planalto quer aprovar, como a proposta de criar um teto para gastos públicos,.

Governistas, nos bastidores, reconheciam que não havia clima para que os deputados concluíssem ontem a votação do projeto que acaba com a participação obrigatória da Petrobras em todos os campos de exploração do pré-sal. A sessão foi cancelada por falta de quórum, sob protestos da oposição.

Mas a expectativa é que a votação, em segundo turno, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que fixa o limite de gastos públicos, prevista para terça-feira, não seja impactada pela prisão do pemedebista.

"Não influencia. Para a base, o momento é de dar início a uma nova ordem fiscal. A ação da Polícia Federal e Justiça é independente. São Poderes independentes", declarou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF). Para o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), "a Casa vai continuar funcionando, mas que cria um stress, cria um stress político".

O presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), também afastou a hipótese de o ritmo de atividades da Casa ser afetado pela prisão de Cunha. "Os fatos evidenciavam para esse desfecho [a prisão]. [...] Não vejo motivo para atrapalhar as votações. O Brasil precisa sair da crise", afirmou.

Rodrigo Maia (DEM-RJ) retornará à presidência da Câmara hoje e prevê terminar a votação do projeto do pré-sal na segunda-feira. O texto-base já foi aprovado, mas faltam os destaques - emendas que podem alterar a proposta.

Ele também convidou líderes da base para um café da manhã hoje na residência oficial com Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e Vicente Cândido (PT-SP), que devem ser presidente e relator, respectivamente, da comissão especial da reforma política.

O colegiado seria instalado ontem. A sessão, porém, foi adiada a pedido de Lúcio Vieira Lima, irmão do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Nem todos os partidos haviam indicado os membros da comissão, que deve começar a funcionar na terça-feira.

Maia e Maranhão eram aliados de Cunha, mas depois romperam. Eles e a base do governo querem tentam manter a "normalidade", as atividades previstas na Câmara, onde aliados e ex-aliados do pemedebista evitam comentar o assunto.

No PMDB, essa também é a tendência. Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não quis falar sobre a prisão preventiva de Cunha, seu desafeto. "Não quero comentar. Nem é bom comentar", respondeu a jornalistas.

Cunha foi líder da bancada do PMDB e, em 2015, alçado à presidência da Câmara com apoio do partido e do bloco conhecido como Centrão, criado por ele. Perdeu apoio, principalmente, depois de a chamada "tropa de choque" de Cunha tentar atrasar ao máximo o andamento do processo de cassação de mandato. A maioria dos deputados dessas siglas, ontem, preferiu não dar entrevistas ontem sobre a prisão. (Colaboraram Vandson Lima e Fabio Murakawa)