Valor econômico, v. 17, n. 4115, 20/10/2016. Política, p. A6
Parlamentares dizem que ex-deputado esperava por prisão e pode delatar
Por: Thiago Resende e Raphael Di Cunto
A prisão preventiva decretada pelo juiz federal Sergio Moro já era esperada pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mesmo sem mandato e com sequenciais denúncias de corrupção, o pemedebista recebia aliados. Poucos, apenas aqueles que não o abandonaram na reta final.
Paulinho da Força (SD-SP), Um dos deputados mais próximos o visitou na semana passada em Brasília. Na ocasião, Cunha comentou que, com o processo contra ele na Justiça do Paraná, "a tendência é que me prendam", relatou ter ouvido Paulinho.
Segundo o deputado, o ex-presidente da Câmara também não descarta a possibilidade de Moro mandar prender a mulher do pemedebista, Cláudia Cruz. O que, na avaliação de Cunha e Paulinho, seria "exagerado".
As reações na Câmara se concentraram nos adversários. Aliados e ex-aliados eram mais cautelosos. Na tribuna, oposição e governo trocaram acusações tendo como pano de fundo a prisão e o impeachment.
"Muitos parlamentares a partir de hoje vão aumentar o consumo de Lexotan", ironizou Silvio Costa (PTdoB-PE), adversário do pemedebista. "Hoje é o começo do fim do governo Michel Temer. [...] Eu duvido esse Eduardo Cunha aguentar a prisão em Curitiba e não fazer delação premiada", disse.
Conhecido por - quase isoladamente - tentar proteger Cunha na etapa final do processo de cassação, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) declarou, em nota, que falou pela última vez com ele no dia 13 de setembro, um dia após a perda de mandato. Marun negou que a prisão atinja o partido: "Eventual desgaste sobre o PMDB já aconteceu. Foi durante o processo. A questão é jurídica e deve se limitar a isso".
Partidos que abandonaram Cunha após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, os líderes do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), e do DEM, Pauderney Avelino (AM), declararam que a prisão do ex-presidente da Câmara já era esperada diante das graves denúncias. "Mas eu imaginava que o Moro iria intimá-lo primeiro para fazer um depoimento. Para mim foi uma surpresa, porque foi antecipada", observou Avelino.
Apesar de Cunha negar a possibilidade de delação, a expectativa de deputados é que, preso, ele acertará o acordo e provocará problemas na governabilidade e no próprio governo com suas acusações. Deputados da base evitaram comentar o assunto. Mas a oposição aproveitou para atacar o Palácio do Planalto.
"Se ele decidir fazer uma delação premiada, certamente destruirá a governabilidade e pode ter o efeito até de derrubar o governo", disse líder do Psol na Câmara, deputado Ivan Valente (SP). Outros oposicionistas cobravam que o Palácio do Planalto e o presidente Michel Temer, do mesmo partido de Cunha, se manifestassem.
O deputado Alberto Fraga (DEM-DF) rebateu afirmando que o governo está em silêncio porque não há o que comentar. A prisão mostra que as investigações continuam, apesar das acusações do PT de que parariam com o impeachment, afirmou. "Não acho conveniente alguém assumir uma tribuna, a não ser os que querem aparecer, para notificar a prisão de quem quer que seja. Hoje foi o Eduardo Cunha, amanhã pode ser o Lula", afirmou.