Valor econômico, v. 17, n. 4115, 20/10/2016. Política, p. A6

Delação de Cavendish, da Delta, está em estágio inicial

Por: Cláudia Schüffner

 

O empresário Fernando Cavendish, que controlava a construtora Delta, está no estágio inicial das negociações com o Ministério Público Federal para um acordo de delação premiada, segundo apurou o Valor. Cavendish cumpre atualmente prisão domiciliar, e responde junto com Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e os doleiros Adir Assad e Marcelo José Abbud, entre outros, a ação que corre na 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

O juiz federal Marcelo Bretas aceitou denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) na Operação Saqueador por desvio de R$ 370 milhões de obras públicas realizadas no Rio em um esquema que utilizava diversas empresas fantasmas.

Fontes ouvidas pelo Valor não confirmam detalhes e nem que a delação atinge o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB de São Paulo, conforme noticiado ontem pelo jornal "O Estado de S.Paulo".

Por ser senador, Aloysio Nunes tem privilégio de foro e por isso teria que ser investigado pela Procuradoria Geral da República em Brasília, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).

Também citado no noticiário de ontem, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) defendeu-se em nota onde afirmou que estava fora do governo em 2010, época em que teriam ocorrido irregularidades.

Na peça de acusação da Operação Saqueador o Ministério Público afirma que 96% do faturamento da Delta obtido no período de 2007 a 2012 - quase R$ 11 bilhões - era oriundo de obras públicas.

Na réplica apresentada na semana passada contestando a defesa dos réus da Saqueador, o MPF reitera que o núcleo financeiro do esquema era formado por Marcelo José Abbud, Adir Assad, Carlinhos Cachoeira e Geovani Pereira da Silva, entre outros réus.

Eles seriam os responsáveis "pelo pagamento de propinas e de lavagem de dinheiro", que utilizavam empresas de fachada cuja atividade única e exclusiva era a prestação do serviço de lavagem para encobrir rastro dos recursos desviados, proporcionando dinheiro em espécie para pagamento de propina a agentes públicos.

Ainda segundo o MPF, as empresas utilizadas no esquema podem ser consideradas "fantasmas" porque não possuem sede nem empregados, tinham receita e movimentação financeira incompatíveis, e operações realizadas pelos mesmos contadores, como demonstrou documentos apreendidos no escritório de Adalberto Palhinha e Amauri Pontalti.

O MPF afirma que o desvio de verbas públicas foi confirmado na delação premiada dos executivos Rogério Nora e Flávio Barra, da Andrade Gutierrez, na Lava-Jato. O esquema narrado pelos dois executivos, segundo a réplica dos procuradores, envolveu desvio de verbas usadas para construção do Parque Aquático Maria Lenk para os Jogos Panamericanos de 2007, e a reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.

"As investigações produziram fortes elementos que apontam para a existência de gigantesco esquema de corrupção de verbas públicas no Rio de Janeiro que contou, inclusive, com o apadrinhamento do então governador do Estado, Sérgio Cabral", afirma o MPF na réplica assinada por seis procuradores da Lava-Jato no Rio.

Segundo a assessoria do ex-governador Sérgio Cabral, não há o que comentar.