Valor econômico, v. 17, n. 4115, 20/10/2016. Política, p. A8

MPF suspeita de pagamentos feitos pela Gol a empresas de Cunha e familiares

Por: André Guilherme Vieira

 

A partir da análise da quebra do sigilo bancário da mulher e da filha do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a força-tarefa da Operação Lava-Jato encontrou indícios de que R$ 3 milhões pagos por empresas ligadas à família Constantino (dona da Gol Linhas Aéreas) a empresas do ex-parlamentar não envolveram prestação de "algum serviço efetivo de publicidade com os valores depositados".

Segundo os procuradores da República, "ao analisar possíveis favorecimentos de Eduardo Cunha para empresas de ônibus, consta que em 30 de março de 2015, o ex-deputado federal, na qualidade de presidente da Câmara dos Deputados, criou uma comissão especial para analisar a isenção de Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, que incide sobre os combustíveis] para as empresas de transporte coletivo urbano municipal e transporte coletivo urbano alternativo". Os Constantino são donos da empresa aérea, que em 2010 ocupou o lugar da Varig no mercado, e detêm o controle de várias empresas de transporte de ônibus.

A força-tarefa investigou os recebimentos das empresas Jesus.Com, C3 Atividades de Internet - que pertencem a Cunha e à mulher dele, Claudia Cruz -, e os da GDAV, que pertence aos filhos do casal, Danielle e Felipe Cunha.

"Praticamente todos os depósitos identificáveis na Jesus.Com e na GDAV indicam uma só origem: o grupo econômico Constantino que comanda a empresa Gol Linhas Aéreas e diversas empresas de ônibus", destaca o MPF no pedido de prisão preventiva de Eduardo Cunha.

O principal recebimento da Jesus.Com provém da Almap BBDO Publicidade e Comunicação, totalizando R$ 1,4 milhão. "A empresa informou que pagou a Jesus.Com a pedido da VRG Linhas Aéreas (Grupo Gol Linhas Aéreas)", escrevem os procuradores da República da Operação Lava-Jato.

Segundo os investigadores, "não há indício de que as empresas Jesus.Com e GDAV tenham prestado algum serviço efetivo de publicidade compatível com os valores depositados".

O restante dos recebimentos teve origem nas empresas Princesa do Norte S.A, que teve como presidente Henrique Constantino e Constantino Oliveira Júnior como diretor, e da filial da Expresso Maringá Ltda., na qual Henrique Constantino figurou como administrador.

Os procuradores responsáveis pela acusação a Eduardo Cunha observam que, "embora os fatos necessitem de aprofundamento investigativo, o auxílio de Cunha com projetos de interesse das empresas de transportes urbanos pode explicar os repasses".