Diretor relata varredura para peemedebista

Fábio Fabrini e Naira Trindade

25/10/2016

 

 

Chefe da Polícia Legislativa diz em depoimento que foram feitas buscas em residência oficial.

Em depoimento à Polícia Federal, o diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, disse ontem que, a pedido do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), policiais legislativos fizeram uma varredura na residência oficial da Presidência da Câmara à procura de dispositivos de escuta ambiental e telefônica. O pente-fino ocorreu depois de o peemedebista ser implicado na Operação Lava Jato.

Na oitiva de cerca de duas horas, o diretor não foi preciso na data do rastreamento. Conforme relato de investigadores, ele disse acreditar que a ação se deu após 15 de dezembro, quando a PF cumpriu mandado de busca e apreensão no imóvel oficial.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), confirmou ontem que a Polícia do Senado fez varreduras no gabinete e na residência da Câmara durante o mandato de Cunha, mas em outro período. O pedido teria sido feito oficialmente pela Câmara em formato de “ordem de missão” à Secretaria de Polícia do Senado Federal em 13 de novembro de 2015. O cumprimento do pedido foi realizado no gabinete em 16 e 27 de novembro daquele ano. Na residência oficial, em 20 de novembro.

“Não vejo nenhuma irregularidade.

Como eu iria recusar uma varredura na residência oficial de um dos presidentes das Casas do Congresso? É uma coisa absolutamente rotineira. E olha que eu nunca tive as melhores relações com Eduardo Cunha.” Em agosto deste ano, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também requereu ao Senado um rastreamento antes de se mudar para o local, palco de frequentes negociações políticas. Ao Estado, ele justificou ter feito o pedido seguindo conselho da Polícia Legislativa da Câmara. 

Prisão. Carvalho foi preso na sexta-feira passada, na Operação Métis, que apura suposto uso do aparato de contrainteligência do Senado para blindar políticos de investigações. A suspeita é que os policiais legislativos eram acionados para rastrear eventuais aparelhos de captação de áudio e vídeo, implantados pela PF com autorização da Justiça.

O diretor foi questionado sobre as varreduras nas casas de outros políticos, entre eles o ex-senador e ex-presidente José Sarney (PMDM-AP). Afirmou que não questionava as ordens de varredura que vinham de senadores, apenas as recebia e cumpria.

O pedido de rastreamento para Cunha, a exemplo do relacionado a um escritório particular de Sarney, conforme publicado ontem pelo Estado, não tinham numeração. Para os investigadores, essa prática foge ao procedimento padrão adotado pela Casa. 

Sem registro. O senador José Medeiros (PSD-MT) disse ontem em discurso na tribuna do plenário que já pediu à Polícia do Senado que fizesse varreduras em seu gabinete com frequência e sem registro formal. “Eu, por exemplo, vou confessar uma coisa aqui: faço varredura constantemente no meu gabinete.

Se isso for motivo de prisão, por favor, me algemem.”

 

O Estado de São Paulo, n. 44933, 25/10/2016. Política, p.A5