Valor econômico, v. 17, n. 4110, 13/10/2016. Política, p. A7

Baixa popularidade de Temer influencia imagem de reforma

Levantamento da Ipsos mostra que existe disposição da população em aceitar mudanças

Por: Ricardo Mendonça

 

No conjunto da população, há mais desconhecimento do que conhecimento a respeito das reformas da Previdência e trabalhista. A ideia geral sobre essas iniciativas, porém, tem mais aceitação do que rejeição. O problema ocorre quando elas são associadas à imagem do presidente Michel Temer, o personagem que, em tese, deverá fazer a condução política dos dois temas. As conclusões são de uma pesquisa nacional da Ipsos sobre o assunto, realizada entre os dias 6 de 16 de setembro, mas só divulgada agora.

Os dados do instituto mostram que praticamente metade dos brasileiros (49%) sequer ouviu falar sobre reforma da Previdência Social. Em relação à trabalhista, a taxa de desconhecimento é ainda maior, beira 60%.

Mesmo assim, há mais gente a favor dessas iniciativas do que contra. A reforma da Previdência Social, segundo a mesma pesquisa, é defendida por 41%; enquanto a trabalhista alcança 43%. Os contingentes de entrevistados que manifestaram contrariedade nos dois assuntos são 37% e 31%, respectivamente.

A desconfiança em relação às reformas cresce bastante, no entanto, quando elas são associadas ao nome do presidente Michel Temer.

Segundo a Ipsos, 54% dos brasileiros desaprovam a maneira como o pemedebista vem atuando na reforma da Previdência. A aprovação é de apenas 21%. Outros 25% não responderam ou não souberam responder.

Em relação à reforma trabalhista, os resultados são parecidos. A desaprovação à atuação de Temer é manifestada por 51%. Os que aprovam somam 23%. E um grupo de 26% não responderam ou não souberam opinar.

Ao fazer a pesquisa, a Ipsos não especificou quais seriam as medidas específicas em cada um desses pacotes de reforma.

No caso da Previdência, a reforma que se esboça é de aumento da idade mínima para aposentadoria e eventual aumento de restrições para pagamento de benefícios. Temas sabidamente impopulares. A aceitação da população em relação a essas medidas específicas não foi testada.

O mesmo vale para a reforma trabalhista. Não é possível saber se, ao manifestar simpatia genérica pelo tema, os entrevistados estavam pensando na ideia já aventada pelo governo de flexibilizar a jornada de trabalho.

Embora não tenham cumprido a promessa nos 13 anos de poder, governos petistas acenavam com a possibilidade de uma reforma trabalhista no sentido oposto, de redução da jornada sem redução dos salários. A pesquisa, de qualquer forma, mostra que a palavra "reforma" tem apelo popular.

Para o sociólogo Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs, o levantamento confirma a existência de um forte sentimento de mudança na sociedade. "Ao defender reformas, os brasileiros estão manifestando muito mais um sentimento de 'isso precisa mudar' do que um sentimento sobre o que mudar". O pesquisador afirma que a simpatia ao tema reforma cai quando o assunto é associado a Temer devido à baixa popularidade do presidente.

"A avaliação da gestão Temer é muito negativa. Nas nossas pesquisas, ele tem só 8% de bom e ótimo, mas 45% de ruim e péssimo. Então isso também influencia na avaliação das reformas". O governo deve lançar no próximo dia 17 uma campanha publicitária a favor da reforma da previdência, de acordo com o portal de notícias "G1". Cersosimo ressalta que não se trata, porém, de uma exclusividade do presidente pemedebista. "Temer carrega um ranço que hoje toda a classe política carrega: essa rejeição geral aos políticos tradicionais", diz.A Ipsos ouviu 1.200 pessoas, o que resulta numa margem de erro de três pontos percentuais.