Valor econômico, v. 17, n. 4111, 14/10/2016. Política, p. A5
Por: Cristiane Agostine
A ex-presidente Dilma Rousseff atacou ontem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que cria um teto para gastos públicos. Para a ex-presidente, é a "PEC da maldade", "contra os pobres" e representará um grave retrocesso para o país, se for aprovada.
Em entrevista à rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, Dilma afirmou que os investimentos e os gastos per capita em saúde e educação serão reduzidos de forma expressiva nos próximos vinte anos, prejudicando sobretudo os mais carentes. "A PEC da maldade, se for aprovada no Senado, vai ser um retrocesso para o Brasil", disse Dilma, em relação à proposta apoiada pelo governo Michel Temer.
A PEC 241 foi aprovada em primeiro turno na Câmara e deve ser votada pelo Senado. Para vigorar, tem de ser aprovada em dois turnos nas duas Casas do Congresso.
A ex-presidente afirmou que se a proposta estivesse em vigor nos últimos dez anos, desde 2006, o orçamento da saúde seria de R$ 65 bilhões, metade dos atuais R$ 102 bilhões. Na educação, disse que o impacto seria maior: se a proposta estivesse valendo desde 2006, os gastos com a área seriam de R$ 31 bilhões, quase um terço dos atuais R$ 103 bilhões. Dilma falou ainda que "o objetivo da PEC" é acabar com a política de reajuste do salário mínimo e citou estudo da FGV que mostra que se a proposta estivesse em vigor, o salário mínimo seria de R$ 400, menos da metade dos R$ 880 atuais.
Na entrevista, Dilma voltou a falar que foi vítima de um golpe, que resultou em seu impeachment, e classificou seu vice e atual presidente, Michel Temer, como "traidor". No entanto, disse não ter "ódio" do pemedebista. "Não tive ódio de torturador. Por que vou ter ódio de traidor nesse processo?"
A ex-presidente disse que o objetivo do golpe é impedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorra à Presidência em 2018 e citou a possibilidade de o petista ser preso. "Há o objetivo claro de condená-lo na segunda instância", disse. "Se prenderem, criará uma situação muito difícil para o país. A prisão do Lula será vista como um corolário do golpe, do golpe que resultou no meu impeachment".
Dilma afirmou que não votará no segundo turno em Porto Alegre, onde mora, e disse ainda que não pretende se candidatar em um "curto prazo".