Título: Confronto à vista
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Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2011, Mundo, p. 26

Irã rejeita acusações da agência nuclear da ONU e promete seguir em frente com seu programa. Israel convoca a comunidade internacional a "deter" o regime islâmico em sua corrida "pela bomba atômica"

O Irã ignorou o relatório em que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) subiu o tom das suspeitas cercando o programa nuclear da República Islâmica, suspeito de ter o objetivo secreto de desenvolver armas, e reafirmou que "jamais" retrocederá. Ao mesmo tempo, Israel, com base no documento, reforçou a pressão sobre a comunidade internacional para que "detenha" o regime de Teerã — e voltou a acenar com a ameaça de um ataque unilateral preventivo. Estados Unidos, França e Reino Unido defenderam a aprovação de sanções mais duras contra o Irã, mas a Rússia classificou a opão como "inaceitável" e acenou com o veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O documento da AIEA, agência nuclear da ONU, acusa o regime islâmico de tentar construir artefatos atômicos, e cita entre os indícios a realização de testes com mísseis capazes de carregar ogivas não convencionais. O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, respondeu que o programa nuclear não sofrerá alterações e reiterou que os fins são exclusivamente civis. "Não recuaremos um centímetro em nosso caminho. O Irã não precisa da bomba atômica. O povo iraniano é inteligente, não vai construir duas bombas diante das 20 mil que vocês possuem", discursou Ahmadinejad, referindo-se ao arsenal das potências atômicas oficiais.

O Irã alega que as informações contidas no relatório foram "fabricadas pelos serviços de inteligência americanos e ocidentais". Também diz estar pronto para um possível conflito e ameaçou destruir Israel, caso ataque suas instalações nucleares. "O centro de Dimona (onde estariam cerca de 200 ogivas atômicas israelenses) é o local mais acessível para o qual podemos apontar (mísseis). Ante a menor ação de Israel, veremos sua destruição", ameaçou o subcomandante do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, general Masud Jazayeri.

Para Israel, o informe da AIEA comprova as suspeitas em torno das pretensões militares iranianas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pediu que as grandes potências mundiais "detenham" Teerã em sua corrida pela bomba atômica. "O relatório é relevante, pois demonstra à comunidade internacional que a busca do Irã por produzir armas nucleares, que colocam em perigo a paz do mundo e do Oriente Médio, deve ser cessada", afirmou o premiê em um comunicado, sem mencionar um possível ataque.

Sanções

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel

A resposta diplomática ao programa iraniano deve ser rápida. A França já pediu uma reunião do Conselho de Segurança para analisar a questão. "Se o Irã se recusa a atender às demandas da comunidade internacional, bem como a cooperar seriamente, estamos prontos para adotar, com outros países, sanções em uma escala sem precedentes", afirmou o chanceler Alain Juppé. EUA e Reino Unido anteciparam que algumas medidas já estão sendo discutidas e estudadas. A Alemanha anunciou que apoia sanções, mas é contra qualquer intervenção militar.

A Rússia, na contramão do Ocidente, reiterou a preferência pelo diálogo com Teerã e sugeriu que poderá vetar a imposição de medidas punitivas pelo Conselho de Segurança. "Qualquer sanção adicional contra o Irã será interpretada na comunidade internacional como um instrumento para mudar o regime em Teerã", disse o vice-chanceler Guennadi Gatilov, em referência à intervenção militar ocidental na Líbia. "Esse enfoque é inaceitável e a Rússia se nega a examinar qualquer proposta nesse sentido." Moscou comparou o relatório da AIEA às suspeitas, que se revelaram infundadas, de que o Iraque de Saddam Hussein teria armas de destruição em massa — justificativa invocada por George W. Bush para ordenar a invasão dos EUA ao país, em 2003. Em nome das mesmas considerações, a Rússia vetou as últimas iniciativas americanas e europeias para impor sanções à Síria.