Título: Jeitinho da Fifa para a venda de ingressos
Autor: Decat, Erich
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2011, Política, p. 3

Número dois da entidade máxima do futebol propõe uma cota de 10% das entradas a preços populares destinadas a idosos, estudantes e minorias.

Considerado por muitos como um verdadeiro craque na hora de lutar pelos interesses da Fifa, o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, defendeu ontem uma proposta que nada mais é que um verdadeiro "jeitinho", à francesa, para driblar as leis brasileiras que tratam da meia-entrada. Em audiência realizada na Comissão Especial da Câmara — que debate o projeto da Lei Geral da Copa de 2014 —, o número dois na hierarquia da Fifa sugeriu a criação de uma cota de 10% para ingressos populares no Mundial.

A medida, na prática, impede o uso das famosas "carteirinhas", que dão direito à metade do preço na hora da compra dos bilhetes. Na avaliação do cartola, cerca de 3 mil torcedores brasileiros deverão ter acesso a ingressos no valor de US$ 25 (R$ 44), apenas para os jogos da primeira rodada. Para as partidas de abertura e da final, deverá ser avaliado um novo percentual de entradas populares. O valor máximo a ser pago para quem quiser assistir aos jogos nos estádios deve chegar a US$ 900 (R$ 1.566).

Dentro da cota defendida pela Fifa estariam, entre outros, estudantes, idosos e representantes de minorias, como indígenas e beneficiários do Bolsa Família. O "jeitinho" encontrado pelo francês está justamente no caso das pessoas maiores de 60 anos. O Estatuto do Idoso garante a meia-entrada em eventos artísticos em todo o país, o que, em tese, se estende aos jogos da Copa. No caso dos jovens, as regras variam em cada unidade da Federação.

Ao longo das discussões com os deputados, o dirigente francês tentou amenizar o clima de confronto e afirmou que a Fifa e o Brasil devem trabalhar em conjunto pela realização do evento. Apesar do tom ameno inicial, não poupou críticas quando o assunto foi o atraso nas obras de mobilidade urbana nas cidades sedes. Com exemplo, ele citou o caso de São Paulo, onde será disputada a partida de abertura do Mundial. "Se deslocar por São Paulo é um pesadelo", afirmou. Com alternativa para melhoria no tráfego nos dias dos jogos, Valcke defendeu que seja tomada a mesma medida adotada na África do Sul: férias escolares no período da Copa. "A Copa das Confederações (em 2013) será um grande teste para nós, mas será tarde para fazer qualquer mudança fundamental", ponderou.

Cerveja Criticado por alguns parlamentares em relação à tentativa da Fifa em impor regras ao país, Valcke por várias vezes recorreu ao discurso de que tudo o que está sendo cobrado agora é o que havia sido acordado com o governo Lula, quando o país foi escolhido para sediar a Copa. O documento, revelado com exclusividade pelo Correio no último dia 25, está dividido em 11 garantias e trata de trâmites como a entrada e a saída do país; a permissão de trabalho; as facilidades alfandegárias; a isenção de impostos; entre outros.

Nas garantias, também está prevista a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, o que é vetado pelo Estatuto do Torcedor. Questionado sobre a proibição prevista em lei, Valcke subiu o tom ao defender o consumo de álcool nas arenas esportivas. "A Fifa não está aqui para embebedar as pessoas", afirmou.