Empréstimo para despistar

 
21/10/2016

 

A força-tarefa da Operação Lava-Jato identificou um empréstimo de R$ 250 mil da Igreja Evangélica Cristo para Cláudia Cruz, mulher do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso por envolvimento no esquema de corrupção instalado na Petrobras. No pedido de prisão do peemedebista, a Procuradoria da República, no Paraná, destaca um “empréstimo simulado como estratagema para lavagem de dinheiro”.

A Igreja Evangélica Cristo pertence ao radialista Oliveira Francisco da Silva, ex-deputado federal e aliado de Cunha. “A partir da Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte de Cláudia Cruz, identificou-se a declaração de um empréstimo supostamente contraído junto a Francisco Oliveira da Silva, presidente da Igreja Evangélica Cristo, de R$ 250 mil no ano de 2008. Contudo, realizada a quebra de sigilo bancário de Cláudia Cruz e de Francisco Oliveira da Silva, não foram identificados relacionamentos financeiros entre as partes”, observam os procuradores.

“Ao que tudo indica, Francisco Oliveira da Silva jamais emprestou dinheiro a Cláudia Cruz, sendo lógico que a simulação do contrato de mútuo serviu apenas como uma fraude para dar lastro para o ingresso de recursos espúrios provenientes dos crimes praticados por Eduardo Cunha no patrimônio da investigada”, aponta a Lava-Jato.

Em depoimento à Lava-Jato, em abril deste ano, Cláudia Cruz declarou que conhece Francisco Oliveira da Silva, presidente da Igreja Evangélica Cristo, e que “nunca teve situação de necessidade financeira”. A mulher de Cunha foi questionada sobre o empréstimo e disse, na ocasião, nada saber “sobre este fato”.

 

Risco

Eduardo Cunha foi preso na quarta-feira por ordem do juiz federal Sérgio Moro, a pedido da força-tarefa da Lava-Jato. O magistrado mandou capturar preventivamente o ex-deputado, que responde a uma ação penal na 13ª Vara Federal de Curitiba, sob o argumento de “risco à ordem pública e à instrução penal”.

Cláudia Cruz é ré na Lava-Jato. A mulher do peemedebista é acusada de lavagem de dinheiro. Segundo denúncia do Ministério Público, Cláudia teria evadido cerca de US$ 1 milhão por meio de contas secretas no exterior abastecidas por seu marido com dinheiro da corrupção na Petrobras. A reportagem tentou contato com o presidente da Igreja Evangélica Cristo, mas ele não foi localizado.

 

Léo Pinheiro segue preso

O juiz federal Sérgio Moro decidiu manter o empreiteiro José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, base da Operação Lava-Jato. Moro acolheu pedido dos advogados de Léo Pinheiro e alertou para o “potencial” e para a “extensão” das informações que ele poderá revelar em um eventual acordo de colaboração premiada. O empreiteiro está preso na Polícia Federal desde setembro.

 

Correio braziliense, n. 19506, 21/10/2016. Política, p. 3