Varredura sem mandato

 

22/10/2016
Eduardo Militão
Júlia Chaib

 

 

O policial do Senado Geraldo César de Deus Oliveira, preso ontem na Operação Métis e solto horas depois, contou à Polícia Federal que José Sarney (PMDB-AP) foi beneficiado com uma varredura, mesmo sem mandato parlamentar. De acordo com o agente, o diretor da segurança do Senado, Pedro Ricardo Araújo, lhe disse que o pedido viera do próprio ex-senador. “Recebi a resposta de que deveria ir, simplesmente por ser uma ordem, já que o pedido havia sido feito por um ex-presidente, e que, por acaso um dia isso fosse questionado, poderia ser dito que tal medida fora realizada como precursora para uma visita do presidente do Senado, o que legitimaria a ação de contramedida”, contou Oliveira, em depoimento ontem. Ele disse que só faria o serviço se recebesse uma ordem por escrito, o que acabou sendo feito.

Este ano, os policiais fizeram uma busca por escutas na casa de Gleisi Hoffmann (PT-PR). Oliveira disse que “ela mesma pediu a varredura” depois da ação da PF em sua residência, quando procuraram provas contra o marido, Paulo Bernardo. “Relataram ao interrogando que a senadora se sentia insegura de voltar para casa, pois ela não estava lá no dia da busca e não sabia quem tinha entrado na casa ‘se era polícia ou outra pessoa’ (sic).” Por temer estar “protegendo parlamentar”, Oliveira afirmou que “desconfiava muito do real interesse nas ordens recebidas” e avisou o chefe, que acionou o procurador Eduardo Pelela, da Procuradoria-Geral da República.

Em nota, Renan afirmou que a Polícia Legislativa age dentro da lei e que a Casa colabora com as apurações. “Atividades como varredura de escutas ambientais restringem-se à detecção de grampos ilegais, sendo impossível, por falta de previsão legal e impossibilidades técnicas, diagnosticar quaisquer outros tipos de monitoramentos que, como se sabe, são feitos nas operadoras telefônicas.” Fernando  Collor disse, em nota, que ignora os fatos e nega que tenha se beneficiado de ação dos agentes do Senado “estranha às funções institucionais”.

Gleisi confirmou o pedido de varredura de forma oficial, mas afirmou que isso faz parte do trabalho dos agentes do Senado. “Em Curitiba, a busca e apreensão da Polícia Federal foi feita sem nossa presença ou de alguém da família. Não sei o que tinha acontecido. Por isso, pedi para fazer a varredura lá também”, disse. “Fazer isso não configura obstrução alguma. Apenas queria ter informação de segurança sobre minha residência.” Nenhuma escuta foi encontrada, segundo ela. Se fosse, haveria comunicação ao Ministério Público.

A reportagem não localizou as defesas de Araújo e dos demais policiais legislativos, de Sarney e do suplente de senador Lobão Filho (PMDB-MA).

 

Correio braziliense, n. 19507, 22/10/2016. Política, p. 3