Denúncias são ‘simples alegações’, diz Temer

Andrei Netto

19/10/2016

O presidente Michel Temer classificou ontem as denúncias contra membros de seu governo como “simples alegações”. “O envolvimento dos nomes se deu, convenhamos, por enquanto, por uma simples alegação, uma afirmação.

É preciso que essas coisas se consolidem. Se um dia se consolidarem, muito bem, o governo verá o que fazer”, afirmou Temer, durante viagem oficial ao Japão, sem detalhar quais medidas vai adotar diante novas acusações.

O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, entrou na lista de ministros citados. Ontem, o Estado mostrou que Tania Maria Silva Fontenelle, ex-funcionária da Carioca Engenharia, empreiteira investigada na Lava Jato, afirmou que comprou “vacas superfaturadas” da Agrobilara com o objetivo de movimentar dinheiro de caixa 2. A empresa da família Picciani tem entre seus controladores o ministro.

O relato foi registrado em acordo de leniência homologado pelo juiz Sérgio Moro.

“Se a cada momento que alguém mencionar o nome de alguém (na Lava Jato) e isso passar a dificultar a ação do governo, fica difícil”, disse Temer, que está em Tóquio para visita de três dias. Hoje, ele se reúne com o primeiro-ministro do país, Shinzo Abe, e com o imperador Akihito.

O presidente afirmou que o governo vai esperar que as denúncias de corrupção e caixa 2 que envolveram integrantes do governo nos últimos dias “se consolidem” antes de tomar providências.

Temer não citou o nome de ministros envolvidos em denúncias, mas respondeu a uma pergunta sobre se escândalos que atingem aliados como o de Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Romero Jucá não prejudicam os projetos do governo no Congresso Nacional. O presidente disse que não. “Em primeiro lugar, facilitam. São pessoas que dialogam bem com o Congresso, como eu, vocês sabem, dialogo muito bem com o Congresso Nacional. Acho que podem ajudar”, afirmou.

 

Denúncias. Nos últimos dias, duas novas denúncias atingiram ministros de Temer. Além de Picciani, em sua última edição, a revista Veja afirmou que o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, teria recebido R$ 3 milhões em propina para cancelar uma obra.

A delação foi feita pelo executivo Claudio Melo Filho, ex-vice- presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, que em depoimento disse à Procuradoria- Geral da República (PGR) ter pago o valor em 2014, quando o ministro era secretário de Aviação Civil no governo de Dilma Rousseff.

Questionado ontem pelo Estado sobre as denúncias, Moreira Franco reagiu irritado e se recusou a comentar.

 

Rotina. Enquanto Temer se pronunciava no Japão, ministros e assessores no Palácio do Planalto também adotaram tom semelhante sobre as citações de ministros em denúncias.

Eles se limitaram a dizer que as denúncias “não interferem na rotina do Planalto”.

Ao ser questionado se houve incômodo com a denúncia contra Picciani, um assessor presidencial afirmou: “Ele está trabalhando normalmente”. Para o governo federal, não só no caso de Picciani, como os de outros ministros, é preciso que haja apuração completa de suspeitas e a conclusão da Justiça para tomar providências.

Na Câmara, deputados governistas temem que surjam novas revelações envolvendo aliados próximos do governo e que isso possa interferir na aprovação de matérias de interesse do Planalto na Casa.

Um líder da base admitiu essa preocupação, mas preferiu adotar um discurso de que é preciso aguardar os próximos acontecimentos nas operações. “Se tiver denúncia consistente, tem de ser investigado”, afirmou o parlamentar, que não quis se identificar. 

 

O Estado de São Paulo, n. 44927, 19/10/2016. Política, p. A6