Título: Reitoria da USP é retomada à força
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2011, Brasil, p. 8
Policiais retiraram, na madrugada, estudantes que ocupavam o prédio havia 12 dias. A ação provocou protestos no câmpus e serviu de combustível para embate entre pré-candidatos à prefeitura da cidade
São Paulo — Setenta e três estudantes que dormiam há 12 dias nas dependências da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) em protesto contra a presença da Polícia Militar no câmpus foram surpreendidos às 5h de ontem. Pelo menos 200 homens do Batalhão de Elite da Polícia Militar paulista invadiram o prédio pelos fundos e prenderam os manifestantes por desobediência à ordem judicial que determinou a reintegração de posse do imóvel. A ação da polícia acabou suscitando um debate entre os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo.
Em pré-campanha pela cadeira de Gilberto Kassab (PSD), o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que viu exagero na forma como os policiais trataram os estudantes. "Não se pode tratar a USP como se fosse a cracolândia. Nem a cracolândia como se fosse a USP", disse o ministro, referindo-se à área do Centro de São Paulo onde a droga é comercializada a céu aberto. Em disputa pela vaga de candidato dentro do PSDB, o secretário de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, aproveitou o comentário de Haddad para criticá-lo. "O Haddad não conhece a USP nem a cracolândia. O que se viu na universidade foi um bando de baderneiros mimados. Já a cracolândia é um problema de saúde pública grave. A grande diferença é que a depredação de patrimônio público por meia dúzia de mimados se resolve com polícia, enquanto a cracolândia é um problema social e de saúde pública", disse.
O governador Geraldo Alckmin não quis comentar as críticas de Haddad. Mas ressaltou que os estudantes que acamparam no prédio da reitoria deveriam aprender a fazer protestos em aulas de democracia. "Precisam ter aula de respeito ao dinheiro público, respeito ao patrimônio público. Não é possível depredar instituições que foram construídas com dinheiro da população. Precisam ter aula de respeito à ordem judicial", criticou. O governador lamentou ainda que tenha sido necessário o uso de força para o retorno da normalidade no câmpus. "É lamentável que tenha que chegar ao ponto de a polícia ter que ir lá para fazer cumprir uma decisão judicial."
Sem acordo Foram necessários dois ônibus para prender os 73 estudantes, sendo 33 mulheres. Uma juíza e um promotor público tentaram, no fim da semana passada, convencer o grupo a deixar o local sem a força policial, mas os universitários recusaram os acordos propostos. Homens da Tropa de Choque blindaram a entrada da reitoria depois que os universitários foram retirados. Ainda assim, o clima de tensão pairou sobre o câmpus durante boa parte do dia, já que manifestações foram feitas em frente ao local. Alguns estudantes entregaram flores e leram poesias aos policiais.
Os detidos começaram a ser soltos mediante o pagamento de um salário mínimo como fiança, valor estipulado pela Secretaria de Segurança Pública. Até as 19h de ontem, três estudantes haviam sido liberados. O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) havia se comprometido a fazer uma arrecadação para pagar o valor total da fiança, R$ 38 mil. Assim que o montante foi arrecadado, no entanto, um dos diretores do Sintusp, Magno de Carvalho, mudou de ideia. "A gente conta que os alunos consigam um habeas corpus ou sejam liberados por decisão da Secretaria da Segurança sem o pagamento da fiança", explicou.