Mercosul ameaça suspender Venezuela por violar Carta; Igreja anuncia diálogo

25/10/2016

 

 

Diplomacia. Enquanto países do bloco marcam reunião para discutir aplicação da cláusula democrática contra Caracas, papa recebe Maduro no Vaticano e enviado de Francisco busca conciliação entre membros da oposição e representantes chavistas 

CARACAS

O Mercosul se reunirá nos próximos dias para discutir a aplicação da cláusula democrática do Protocolo de Ushuaia contra a Venezuela, depois de o governo de Nicolás Maduro suspender a convocação de um referendo revogatório de seu mandato. O anúncio foi feito pelos presidentes do Uruguai, Tabaré Vásquez, e da Argentina, Maurício Macri, após uma reunião em Buenos Aires.

Se a medida de punição for acatada pelos demais paísesmembros, a Venezuela pode ser suspensa do bloco – o que implicaria na paralisação de todos os seus benefícios, como a livre circulação de pessoas e a união alfandegária.

Ao mesmo tempo, na Venezuela, o governo anunciou um diálogo com a oposição, intermediado pelo Vaticano – ontem, o papa Francisco reuniuse com o líder chavista.

“Estamos preocupados com a situação atual”, afirmou Macri.

“Do jeito que está, a Venezuela não pode fazer parte do Mercosul e tem de ser condenada por todos os países do continente e do mundo.” A oposição venezuelana considerou um “golpe de Estado” a suspensão do processo de referendo que abreviaria o mandato de Maduro.

Brasil, Argentina e Paraguai se articularam nos últimos meses para impedir que a Venezuela assumisse a presidência do bloco, como forma de protesto contra o governo Maduro, que na visão de Brasília, Assunção e Buenos Aires não cumpriu as regras de adesão ao Mercosul. Reticente a aderir à punição, o Uruguai vinha se mantendo mais neutro na discussão. 

Diálogo. O enviado do papa para a Venezuela, monsenhor Emil Paul Tscherrig, anunciou ontem uma nova rodada de diálogo entre o chavismo e a oposição, marcado para o dia 30, na Ilha de Margarita, no Caribe venezuelano.

A reunião tem também o apoio da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Segundo o religioso, governo e oposição chegaram a um consenso para uma conciliação.

“Oposição e governo concordaram em trabalhar em conjunto para garantir segurança às manifestações dos próximos dias”, disse. “O objetivo essencial da negociação é superar as conjunturas políticas, sociais e institucionais para garantir a convivência democrática.” No Vaticano, em audiência com Maduro que teve caráter “privado” e não tinha sido anunciada, o papa incentivou o “diálogo sincero e construtivo entre governo e oposição” da Venezuela, com a finalidade de aliviar o sofrimento das pessoas e promover a coesão social, informou a Santa Sé em nota.

“O encontro foi celebrado no âmbito da preocupante situação da crise política, social e econômica que esse país está atravessando e repercute duramente na vida cotidiana de toda a sua população”, prosseguiu o comunicado. “Dessa forma, o papa, que leva todos os venezuelanos no coração, deseja continuar a oferecer a sua contribuição a favor da institucionalidade desse país.”

Violência. Nas ruas da Venezuela, no entanto, o clima é tenso. Em San Cristóbal, no oeste do país, estudantes que protestavam contra a suspensão do referendo entraram em confronto com agentes da Polícia Nacional Bolivariana (PNB). Ao menos cinco pessoas ficaram feridas no episódio, segundo os manifestantes.

“Não vão nos deter. Os protestos vão continuar apesar da repressão”, disse Hasler Iglesias, presidente da Federação de Estudantes da Universidade Central de Táchira.

A Venezuela vive um momento de alta tensão política após a suspensão, pelo poder eleitoral, do processo liderado pela opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) para submeter Maduro a um referendo que poderia revogar seu mandato, que termina em 2019. Em reação, o Parlamento de maioria opositora aprovou no domingo uma resolução que considera o freio ao referendo o marco de um “golpe de Estado” do governo.

Parlamentares disseram que pretendem instaurar um processo de impeachment contra Maduro.

Instabilidade

“Do jeito que está, a Venezuela não pode fazer parte do Mercosul e tem de ser condenada por todos os países do continente e do mundo”

Mauricio Macri

PRESIDENTE DA ARGENTINA