Título: Grécia elege Papademos
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Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2011, Economia, p. 10
Atenas — O martelo já foi batido: segundo as redes de televisão gregas, Lucas Papademos, ex-diretor do Banco Central Europeu (BCE), será o primeiro-ministro da Grécia, sucedendo Georges Papandreou, que renunciou ao cargo depois de perder apoio político até dentro de seu partido. O nome de Papademos deve ser anunciado oficialmente hoje. Ele terá a dura missão de conduzir um governo de coalizão até as eleições do próximo ano — provavelmente, em fevereiro — em meio às fortes pressões dos líderes da Zona do Euro para que o país promova um aperto ainda maior em suas finanças.
A demora da Grécia em oficializar a escolha de Papademos, que conta com o apoio dos socialistas do Pasok e da oposição de direita (Nova Democracia), fez aumentar a impaciência dos mercados, que voltaram a desconfiar do real compromisso dos gregos em sair do atoleiro. Na última segunda-feira, os principais caciques da Eurozona pediram aos partidos do futuro governo de coalizão que assumissem, por escrito, um compromisso de que continuarão com as reformas econômicas e os cortes nos gastos públicos, em troca da ajuda prometida. A Grécia anseia por uma parcela de 8 bilhões de euros de um socorro total de 110 bilhões de euros.
Os Estados Unidos demonstraram satisfação quanto ao acordo da Grécia para a adoção de novas medidas de austeridade, mas ressaltaram que a próxima gestão de Atenas terá de cumprir as condições para o resgate do país. Se seguir a cartilha da União Europeia, do BCE e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo grego terá uma ajuda adicional de 130 bilhões de euros, além da redução de 100 bilhões de euros em dívidas. Para facilitar o acordo para o governo de coalizão, Papandreou pediu ontem a renúncia de todos os integrantes de seu gabinete. Mas há a possibilidade de Evangelos Venizelos continuar à frente da pasta das Finanças.
Alívio de curto prazo Apesar de sua situação quase falimentar, a Grécia conseguiu captar ontem no mercado financeiro 1,3 bilhão de euros em títulos com vencimento em seis meses. O país terá, no entanto, que arcar com taxa de juros de 4,89% ao ano acima dos encargos pagos pela Alemanha — custo superior aos 4,86% da última emissão de papéis, realizada no início de outubro. A procura pelos títulos foi três vezes superior à oferta. A Grécia está tendo que se endividar no curtíssimo prazo porque os investidores estão assustados com a crise política que domina o país e, principalmente, com a péssima situação das contas públicas. Quanto maior for o prazo de vencimento dos papéis do governo, maior é o risco de calote. A crise grega se arrasta desde o início de 2010 sem que as lideranças da Zona do Euro consigam estancá-la.