Título: Crise piora e afeta emergentes
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2011, Economia, p. 11

Mantega alerta para fuga de capitais e acusa os líderes europeus de agirem tardiamente ao enfrentar a ameaça de recessão da Zona do Euro

A crise econômica na Europa "está pior" e já está provocando saída de capitais de alguns países emergentes, advertiu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que acusou os líderes europeus de atuarem tardiamente para enfrentar a situação. "A crise não está sendo resolvida satisfatoriamente, diria até que está um pouco pior", afirmou. "O caso da Grécia ainda não está resolvido e agora apareceu o problema da Itália, que é muito maior. Estão deixando a coisa degringolar."

Segundo Mantega, embora a economia italiana seja mais sólida do que a grega, os mercados funcionam com base na expectativa e na confiança, "e o fato é que ainda não foi possível recompor a confiança na Europa". De acordo com o ministro, o Brasil não está entre os países afetados por fuga de recursos. Os que mais sofrem são "os que não possuem volume de reservas elevado, que mostram uma fragilidade cambial maior". "Mas temos que nos preocupar com isso, porque caso os emergentes sejam alcançados pela crise, a situação internacional vai se deteriorar ainda mais", disse.

Com a recessão batendo às portas da Europa e a persistente debilidade dos Estados Unidos, a economia brasileira já vem sendo prejudicada. A perda de dinamismo global já levou as previsões oficiais de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos 5% anunciados no início do ano para perto de 3%. Com a turbulência na porta, a presidente Dilma Rousseff, além disso, já deixou claro que a ordem é manter o rigor nas contas públicas para não dar qualquer motivo de desconfiança na solidez econômica do país.

Ajuda Mantega negou informações de que o Brasil tenha oferecido um reforço de US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI), para ajudar os países da Zona do Euro, na recente reunião do G-20, o grupo das maiores economias do mundo, em Cannes, na França. "Não foi feita nenhuma proposta concreta em números, mas isso não quer dizer que isso acontecerá no futuro", afirmou.

O governo já deixou claro que prefere ajudar a Europa através do FMI, em vez de comprar títulos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). A disposição de fortalecer o FMI foi discutida entre os Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, mas, segundo Mantega, o dinheiro extra seria utilizado não apenas pelos europeus, mas por todos os países que precisassem de ajuda em caso de agravamento da crise.

Para os europeus, a ajuda dependia da realização do "dever de casa", como a ampliação e a reestruturação do Feef, a utilização correta do Banco Central Europeu (BCE) e a resolução do problema fiscal da Grécia. Como nada disso foi ainda concretizado, não houve proposta. "Nenhuma cifra foi definida. Nem dos chineses nem dos japoneses nem dos americanos e tampouco do Brasil", explicou o ministro da Fazenda. "Nós pressionamos bastante (pela solução da crise). Mas eles têm lá os seus problemas políticos para resolver", disse.

Anos de baixo crescimento As economias maduras passarão por um período longo de fraca atividade econômica. "O cenário para os próximos anos é muito provavelmente de baixo crescimento das economias maduras. E a curto prazo estamos vivendo um período de maior volatilidade e incertezas", disse o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Luiz Awazu Pereira, durante seminário promovido pela Caixa Seguros. Segundo ele, a crise exige "respostas rápidas, abrangentes e mensagens harmônicas e claras por parte dos formuladores de política econômica". Awazu disse ainda que o sistema financeiro nacional é sólido, o que garante a estabilidade e a credibilidade dos ativos brasileiros.