Valor econômico, v. 17, n. 4105, 05/10/2016. Política, p. A10

Falcão quer Lula no comando do PT

Falcão: para o presidente do PT, partido sofreu "derrota de grandes proporções"

Por: Andrea Jubé

 

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, reconheceu, em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, que o partido sofreu uma "derrota de grandes proporções" nesta eleição, que precisa ser "avaliada em profundidade". Falcão acrescentou que esse resultado indica, de saída, que é preciso "mudar muita coisa no PT".

Ele diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai liderar o processo de renovação da sigla e avalia se assumirá a presidência do partido. Sobre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Rui Falcão diz que "é uma liderança que o PT não poderá descartar".

Hoje Falcão comanda, em Brasília, reunião da Executiva Nacional que fará um balanço das eleições e definirá a estratégia para o segundo turno. O PT vai concorrer em sete municípios, inclusive em Recife (PE). Tem chances mais concretas de vitória em Santa Maria (RS) e Anápolis (GO).

O PT perdeu a administração de 379 prefeituras, em comparação com a eleição de 2012 e caiu para o 10º lugar no ranking de prefeitos. "Essa derrota precisa ser avaliada em profundidade, com serenidade e muita calma. De saída, indica que precisamos mudar muita coisa no PT, retomar práticas de política cotidiana, não fazer política só na época de eleição, reforçar nossos laços com a comunidade", enumera.

Entre março e maio, o partido deflagrará o processo de renovação da direção nacional e do programa partidário. "Lula está disposto a, em 2017, ajudar nesse processo de atualização programática, de fortalecimento das instâncias, dos diretórios", disse Falcão. "Tem uma pressão pra que ele seja [o presidente da sigla], até o momento ele não decidiu, mas é uma pessoa capaz de unificar o PT e liderar esse processo", afirmou o dirigente. "Com ele, é possível montar uma direção plural, com muito peso político, porque vai ter um centro de poder ali", avalia.

Falcão diz que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, é uma liderança que "tem que ser preservada", com o perfil de lideranças em que o partido deve investir. Cita, ainda, o governador do Piauí, Wellington Dias, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) - também cotado para a presidência da sigla - e o governador do Acre, Tião Viana. "É uma geração que precisa ser empoderada e pode dar contribuições futuras".

Com o ex-presidente Lula transformado em réu na Operação Lava-Jato, e lideranças da sigla implicadas na investigação, Falcão atribui o resultado do PT nas eleições a uma "campanha de cerco e aniquilamento" que o partido estaria sofrendo desde o julgamento do mensalão.

Ele cita "ações seletivas" às vésperas da eleição que contribuíram para o desgaste do partido, como as prisões do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega - depois revogada -, e do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci, que teve a prisão temporária convertida em preventiva três dias antes da votação. "Isso criou para o eleitorado uma marca negativa para o PT que se refletiu nas eleições", avalia.

Falcão reconhece erros, diz que o PT tem feito autocríticas e defende uma reforma política, com financiamento público das campanhas. "Embora o PT combatesse o financiamento empresarial, acabou seguindo as regras do jogo, e isso nos igualou aos outros partidos", avalia. "Cometemos erros, mas esses erros não podem comprometer todo o partido", complementa.