Lava Jato vê recado de Cunha a peemedebistas

Ricardo Brandt

 24/10/2016

 

 

Para investigadores, contratação de advogado especializado em acordos de delação premiada pressiona antigos aliados do deputado cassado.

A contratação de um escritório de advocacia especializado em delações premiadas pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi interpretada por investigadores da Operação Lava Jato como um recado ao seu partido.

Após ser preso, na quarta-feira passada, o ex-presidente da Câmara incluiu em sua equipe de defensores o advogado Marlus Arns, que já negociou a colaboração de executivos da construtora Camargo Corrêa.

A possibilidade de um acordo de Cunha com a força-tarefa da Lava Jato assombra o Planalto e membros do PMDB. O ex-parlamentar atuava nos bastidores como uma espécie de tesoureiro informal do partido, intermediando doações eleitorais a aliados.

Cunha é acusado na Lava Jato de receber propinas por contrato da Petrobrás na África e em construção de plataformas, via Diretoria Internacional da estatal, que faria parte da cota do PMDB no esquema de ocupação política dos cargos na empresa.

Ele responde ainda por lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio em contas secretas na Suíça e tentativa de obstrução às investigações.

Para investigadores ouvidos pelo Estado, no entanto, o papel de Cunha no comando do esquema na estatal é secundário. Até agora, os indícios contra o peemedebista, segundo uma pessoa envolvida na apuração do caso, apontam muito mais para tentativas de extorsão do que por sua influência nos negócios da empresa petrolífera.

Na Câmara, parlamentares dizem acreditar que o avanço das investigações sobre a família de Cunha poderia acelerar uma eventual negociação por acordo de delação premiada. A mulher, Cláudia Cruz, é ré em uma das ações por lavagem de dinheiro e evasão d e divisas e dois de seus filhos já foram citados na nas investigaçes da Lava Jato.

 

Delação. Responsável pela homologação de mais de 50 acordos de colaboração, o juiz Sérgio Moro defendeu em palestra em Curitiba, um dia depois de prender Cunha, os acordos de colaboração. Segundo ele, investigações de crimes de corrupção são complexas e muitas vezes “não há como prescindir do auxílio” de criminosos.

“Crimes não são cometidos no céu, nem nos conventos, como regra, então não podemos chamar anjos ou freiras como testemunhas desses casos criminais envolvendo a administração pública”, afirmou o juiz.

 

O Estado de São Paulo, n. 44932, 24/10/2016. Política, p.A5