Centrão critica articulação para reeleger Maia na Câmara

Igor Gadelha

08/10/2016

 

 

Para líderes do grupo, movimento de aliados do presidente da Casa pode prejudicar a governabilidade.

Líderes do Centrão – grupo de 13 partidos liderado por PP, PSD e PTB – criticaram ontem o movimento de aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para viabilizar a reeleição dele ao comando da Casa em 2017. Para o grupo, que cobiça o posto, a articulação pode inviabilizar a governabilidade de Maia na Câmara e, assim, prejudicar a pauta de interesse do governo Michel Temer (PMDB).

Como mostrou ontem o Estado, aliados de Maia articulam a apresentação de uma consulta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com base em pareceres de juristas, para saber se um presidente eleito para um mandato-tampão pode disputar a reeleição. Em julho, Maia foi eleito presidente da Casa para um mandato de oito meses, após o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) renunciar. Na disputa, Maia derrotou um candidato do Centrão.

“É direito dele tentar, mas ele está querendo avançar na regra. É um casuísmo que não cabe”, afirmou o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO), um dos nomes do Centrão cotados para disputar a presidência da Casa em fevereiro de 2017. Para o parlamentar, não é prudente tentar permitir a reeleição dentro do mesmo mandato agora. “Na medida em que estamos discutindo isso, acaba tirando o foco das reformas que o governo quer aprovar”, disse o líder. Para Jovair, o presidente da Câmara está por trás da articulação.

‘Cautela’. Nome do Centrão derrotado por Maia na eleição mais recente à presidência da Câmara e cotado para disputar novamente o cargo no ano que vem, o líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), disse não haver nenhuma dificuldade em discutir reeleição para a Mesa Diretora da Casa, mas falou em “cautela”. “É preciso ter cautela para não criar divergências na base e não tirar o foco do que é mais importante no momento, que são os ajustes econômicos e fiscais que o Brasil precisa”, afirmou Rosso.

O líder do governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE), foi na mesma linha que o líder do PSD. “Se, regimentalmente, for permitido, é legítima a consulta dos aliados. Aliados são para isso mesmo. O que não se pode é deixar que a disputa interna contamine a pauta do governo”, afirmou Moura, que trava uma disputa de força e influência na gestão Maia nos bastidores.

PEC do Teto. Maia negou que esteja envolvido no movimento para viabilizar sua reeleição ao comando da Câmara e que queira disputar a reeleição. “Se eu fizer isso agora, vou atrapalhar o governo, atrapalhar a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) do teto (de gastos públicos da União)”, disse. “Não quero disputar reeleição. Quero aprovar a PEC do Teto. Marcar meu mandato pela travessia”, afirmou o presidente da Câmara. “Quem inventou isso pode ter certeza de que não está agradando”, disse Maia. 

‘Contaminar’

“Se, regimentalmente, for permitido, é legítima a consulta dos aliados. O que não se pode é deixar que a disputa interna contamine a pauta do governo.”

André Moura (PSC-SE)

LÍDER DO GOVERNO NA CÂMARA

 

O Estado de São Paulo, n. 44932, 08/10/2016. Política, p.A10