Título: Mais que suspeito
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2011, Mundo, p. 16

Relatório da agência nuclear das Nações Unidas afirma que o Irã vem trabalhando para desenvolver um artefato explosivo e mísseis capazes de transportá-lo. Aumenta a pressão do Ocidente pela imposição de mais sanções

O Irã trabalha no desenvolvimento de armas nucleares e chegou a realizar testes específicos para a construção de um artefato. A denúncia consta de um novo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre o programa atômico iraniano, cujo texto foi obtido pela imprensa internacional antes mesmo da divulgação. O documento, com 25 páginas, confirma suspeitas das potências ocidentais sobre as intenções do regime de Teerã. Em uma investigação minuciosa, pesquisadores da AIEA, que faz parte da ONU, obtiveram informações importantes sobre os objetivos militares do regime islâmico. O informe tende a aumentar a tensão no Oriente Médio, em meio às ameaças de um ataque israelense ao Irã e à pressão por mais sanções.

O documento diz que a República Islâmica "realizou atividades destinadas a desenvolver um artefato explosivo nuclear", e estima que o processo começou em 2003. Os investigadores citam testes para o desenvolvimento de explosivos, a aquisição de computadores para desenhar modelos de detonador atômico e até a compra de projetos de um grupo clandestino, com todos os detalhes para a produção desse tipo de armamento. Além das desconfianças relacionadas ao enriquecimento de urânio, as novas informações apontam para o uso do material radioativo em ogivas de mísseis. O informe foi enviado para os 35 países-membros do Conselho da AIEA e deve ser discutido em uma reunião marcada para os dias 17 e 18, em Viena.

O governo de Teerã negou as acusações e reiterou que seu programa nuclear tem fins exclusivamente civis. "O relatório é desequilibrado, amador e politicamente motivado", disse o enviado iraniano à AIEA, Ali Asghar Soltanieh, de acordo com a agência oficial Fars. Segundo a ONU, as informações têm origem em denúncias de pessoas que trabalhavam nas usinas, fotos de satélites e outras fontes. Antes que o teor do relatório chegasse à imprensa, o presidente Mahmud Ahmadinejad afirmou que seu país não precisa de armas nucleares. "Podemos alcançar nossos objetivos usando o pensamento, a cultura e a lógica. Os Estados Unidos, que possuem 5 mil ogivas nucleares, não têm pudor de nos acusar de fabricar a bomba atômica. Mas devem saber que, para cortar a mão que estenderam sobre o mundo, não precisaremos da bomba atômica", disse à TV estatal.

Debate A discussão sobre o programa nuclear iraniano deve dominar o cenário internacional nas próximas semanas. EUA, França e Reino Unido apostam em novas sanções, especialmente do ponto de vista econômico, mas podem esbarrar na resistência da Rússia e da China. Brasil e Turquia, que tentaram mediar um acordo com Teerã, no ano passado, também relutam em apoiar medidas punitivas. O Itamaraty está analisando o documento, mas antecipou que prefere construir um ambiente favorável ao diálogo. Israel vem sinalizando que considera seriamente a opção de um ataque preventivo às instalações nucleares iranianas, em especial caso a AIEA reforce as suspeitas de que o país pode estar sob ameaça. O documento afirma que o Irã testou mísseis capazes de atingir o território israelense e carregar uma ogiva atômica.

Nesse quadro, os EUA devem pressionar pela aprovação de mais sanções ao Irã. O assunto deve ser levado ao Conselho de Segurança, como o próprio presidente Barack Obama havia adiantado na semana passada. A Rússia condenou a publicação do documento da AIEA e afirmou que as novas acusações devem dificultar o processo diplomático com os iranianos.

As desconfianças » Iniciativas para produzir material atômico sem verificação externa

» Desenvolvimento de modelos de computador e testes relacionados a detonadores nucleares e explosivos de alta potência

» Esforços de indivíduos e de instituições para buscar material e equipamento nuclear de uso tanto militar quanto civil

» Aquisição de informações sobre a produção de armas nucleares com uma rede clandestina

» Planejamento preparatório para testes de artefatos atômicos

» Desenvolvimento de um míssil capaz de carregar ogiva nuclear e de atingir alvos em Israel