Valor econômico, v. 17, n. 4109, 12/10/2016. Política, p. A8

Centrão mobiliza-se contra possibilidade de reeleição de Maia

Jovair: "Eu penso em me candidatar [a presidente da Câmara]. Mas isso é construído"

Por: Raphael Di Cunto e Thiago Resende

 

Insatisfeito com a movimentação de aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para alterar a legislação e permitir que ele dispute a reeleição em fevereiro, o Centrão iniciou ontem, em almoço no PRB, tratativas para derrubar essa articulação. "Se ele insistir nisso a força dele acabará no dia seguinte, vai conflagrar o plenário", disse um dos líderes do bloco.

O Centrão resolveu mandar sinais de que não dará espaço para a manobra na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O grupo, junto com o PMDB, tem maioria na comissão. Decidiu procurar ainda o PSDB - embora aliada de Maia, a sigla tem dois candidatos ao cargo para o biênio 2017/2018: o atual líder, Antonio Imbassahy (BA), e o ex-líder Carlos Sampaio (SP).

A mudança de interpretação ocorreria por meio de uma consulta à CCJ para liberar a reeleição de Maia, já que a Constituição Federal e o regimento interno só vedam explicitamente a reeleição para mandatos de dois anos - o deputado do DEM, contudo, foi eleito para um mandato tampão, de sete meses, no lugar do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que o assunto nunca foi tratado. A única consulta, de 1980, é se um vice-presidente que assumiu o cargo por algum tempo poderia concorrer à presidência da Câmara. "A consulta é possível. Terá pareceres a favor e contra, a resposta dependerá do número de votos", afirmou. Mas qualquer que seja o resultado, alerta, poderá ser contestado na Justiça.

Um dos principais líderes do Centrão, o deputado Jovair Arantes (GO), que comanda a bancada do PTB, disse a aliados que pretende disputar a eleição em fevereiro. "Eu penso em me candidatar. Mas isso é construído", afirmou ontem. No Centrão também está posta a candidatura do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), que disputou com Maia o "mandato tampão" e foi derrotado.

Mesmo com a votação da PEC do teto de gastos no plenário, o Centrão realizou almoço ontem no PRB para discutir os próximos passos. Ainda está em negociação a formalização de um bloco, que poderia reunir 296 deputados, incluindo o PMDB. Jovair foi o que mais se irritou com a articulação de Maia, mas outros líderes expressaram descontentamento.

"Tratar de sucessão agora é inoportuno, nosso grupo não vai falar disso até concluir a votação de todas as PECs de interesse do país", afirmou o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB). "Isso pode esfacelar a base", alertou o líder do PR, Aelton Freitas (MG).

No PSDB, a ideia também não foi bem aceita. Tucanos dizem esperar, como contrapartida ao apoio ao DEM no mandato tampão, a recíproca em fevereiro. E avisam que Maia não contaria com os votos do partido na CCJ ou para a reeleição. "Até porque, reeleito, ele pode disputar a presidência em 2019 e ficar cinco anos", disse um deputado.

Alguns tucanos mais próximos do presidente o procuraram sobre a movimentação. Maia respondeu que não existia tal articulação e que essa ideia partia de aliados da oposição, que tem ganhado espaço na sua gestão - o deputado Vicente Cândido (PT-SP), por exemplo, será relator da reforma política. "Meu foco é votar as reformas que o país precisa", disse o presidente a aliados.