Valor econômico, v. 17, n. 4104, 04/10/2016. Brasil, p. A6

Rede tem debandada com fraco desempenho eleitoral

Por: Cristiane Agostine e Fernando Taquari

 

Com um fraco desempenho em sua primeira disputa eleitoral, o Rede Sustentabilidade enfrentou ontem um novo revés, com a saída de um grupo de intelectuais e fundadores do partido. Em uma carta aberta, os ex-integrantes, como o antropólogo Luiz Eduardo Soares, criticaram a fundadora da sigla, Marina Silva, por centralizar as decisões, afirmaram que a legenda não tem "um mínimo de consistência ideológica" e registraram que o Rede deve ter uma "inflexão para o centro político, indiscutivelmente conservador" em 2018, quando a ex-senadora poderá disputar novamente a Presidência.

Na carta aberta, divulgada um dia depois do primeiro turno das eleições, os fundadores do partido reclamaram que o Rede "tem se estruturado sobre um vazio de posicionamentos políticos". O grupo criticou a falta de posicionamento sobre temas centrais da política e da economia brasileira e disse que Marina está por trás dessa postura do partido "que evita as definições", "porque percebe que cada uma delas pressupõe um custo político-eleitoral".

Os ex-integrantes afirmaram que o partido é "politicamente dependente de Marina" e disseram que as decisões estratégicas "partiram todas" da ex-senadora "e apenas dela", desde a escolha de entrar no PSB até a decisão de apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Em cada um desses momentos cruciais, a maioria da direção nacional simplesmente se inclinou em apoio às posições sustentadas por Marina", registraram no documento divulgado ontem.

Segundo o grupo, Marina "não lidera o Rede para que o partido assuma definições políticas consistentes, parecendo preferir navegar em meio a uma sucessão de ambiguidades". "Depois de um ano de existência legal e três anos de construção partidária, o Rede não se posicionou sobre qualquer das grandes questões nacionais - sequer foi capaz de formular uma crítica fundamentada ao governo Temer. Quando esboçou alguma posição, ou proclamou platitudes, ou decepcionou, afastando-se dos compromissos assumidos em sua fundação", disse o grupo.

Na assinatura da carta, estão Marcos Rolim, Miriam Krenzinger, Liszt Vieira, Tite Borges, Carla Rodrigues Duarte e Sonia Bernardes, além de Luiz Eduardo Soares.

Os ex-integrantes reforçam, em outro trecho do documento, a discordância em relação ao apoio do impeachment. Marina defendeu a cassação da chapa de Dilma-Michel Temer, estratégia considerada pelo grupo como "inverossímil quanto ingênua e equivocada" e fortaleceu o PMDB e um grupo político envolvido na Lava Jato.

No primeiro turno, o Rede elegeu apenas cinco prefeitos e disputará o segundo turno em uma capital, Macapá.