BC reduz juros a 14% e cobra avanço de ajuste
20/10/2016
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) diminuiu ontem a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano, e deixou em aberto a possibilidade de promover outros cortes nos próximos encontros. A decisão foi tomada de maneira unânime pelo colegiado. A queda, a primeira em quatro anos, era esperada pelo mercado, que divergia apenas sobre o tamanho da redução. Em nota, o BC alertou que a extensão do ciclo de baixa e uma possível intensificação da tesourada dependerão do avanço do ajuste fiscal no Congresso e do ritmo de desinflação.
Para a autoridade monetária, ainda há incertezas sobre o controle dos gastos públicos e a reforma da Previdência Social. Mesmo com o avanço da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 241, de 2016, que já passou por uma votação na Câmara, as mudanças nas regras para a concessão de benefícios previdenciários ainda são incertas. Muitos parlamentares temem perder eleitores caso fique mais difícil para os brasileiros se aposentarem.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a decisão de cortar os juros indica que a inflação está convergindo para a meta, de 4,5%. Para ele, o Copom deve ter adotado a medida por entender ser possível iniciar um novo ciclo de afrouxamento monetário, e “isso é positivo”. O BC, no entanto, ponderou que o período prolongado de inflação alta e de expectativas acima da meta pode retardar o processo de desinflação. Além disso, destacou que há sinais de pausa no processo de queda de preços de serviços, o que pode indicar que a convergência do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o objetivo do governo será mais lenta. Mesmo com todos os problemas pela frente, as projeções do mercado continuam em queda.
Segundo o comunicado do Copom, as expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus para 2017 recuaram para em torno de 5% desde o último encontro do colegiado e do Relatório de Inflação (RI) do terceiro trimestre. No cenário de referência do BC, a estimativa para a inflação do próximo ano recuou para 4,3%, enquanto a projeção para 2018 encontra-se em 3,9%. No cenário de mercado, a previsão de 2017 manteve-se inalterada, em 4,9%, e a de 2018 aumentou para 4,7%.
Os diretores do BC ainda destacaram que a a inflação recente se mostrou mais favorável que o esperado, em parte por causa da reversão da alta de preços de alimentos. Eles avaliaram que o nível de ociosidade na economia pode intensificar a desinflação e que os primeiros passos no processo de ajuste da economia foram positivos.
Apostas
No mercado, os analistas continuam divididos sobre os próximos passos da autoridade monetária. Para a economista-chefe da Coface para América Latina, Patrícia Krause, o BC manterá um ritmo gradual de cortes, condicionando o avanço à melhora nas contas públicas e ao bom comportamento do IPCA. “Acreditamos que a Selic encerrará este ano em 13,75 %, atingindo 12,75 % no fim de 2017”, afirmou.
Já o economista Alexandre Espirito Santo, da corretora Órama, prevê que, em novembro, a autoridade monetária aumentará o corte de juros para 0,5 ponto percentual, no rastro de boas notícias no campo político. Ele ressaltou que o presidente Michel Temer aproveitará o comprometimento do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o ajuste fiscal para encaminhar a reforma previdenciária. “Essa essa redução na Selic é bem-vinda, pois vai colaborar para a recuperação da economia. A taxa chegará a 10,5% até o fim de 2017”, estimou.
Mesmo com a cautela do BC, o economista-chefe do Banco Fibra, Cristino Oliveira, avaliou que há espaço para que os juros cheguem ao fim de 2017 a 9,25%. Ele esperava uma queda de 0,5 ponto percentual na reunião de ontem, mas destacou que o BC deu ênfase ao fato de a inflação não ter convergido para a meta em 2017 e 2018 no cenário de mercado e nas projeções coletadas pelo boletim Focus. “O ajuste fiscal está acontecendo e a inflação, em queda. Isso vai permitir a aceleração do ritmo de corte de juros.”
Diante dos sinais emitidos pelo Copom, a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, avaliou que o órgão trabalha com a perspectiva de cortes de 0,25 ponto percentual, ao menos até a próxima reunião, buscando evidências mais robustas de queda das expectativas inflacionárias. “A projeção no cenário de referência, que considera Selic a 11% em 2017, estimou aumento da inflação em 2018 e índice acima da meta em 2017 e 2018, o que pode ser um sinal de que o ciclo total poderá ser menor do que o inicialmente imaginado”, disse.
Correio braziliense, n. 19505, 20/10/2016. Economia, p. 9