País tem 12 milhões de pessoas sem trabalho

 

01/10/2016
Vera Batista

 

O total de pessoas desempregadas no Brasil chegou a 12,024 milhões no trimestre encerrado em agosto, um recorde. O número, equivalente a 11,8% da força de trabalho, é muito maior do que o registrado no mesmo período de 2015, quando 8,8 milhões de pessoas estavam sem ocupação, ou seja, em apenas um ano, 3,2 milhões de cidadãos perderam o emprego devido à crise econômica mais extensa que o país já enfrentou. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em evento em São Paulo, o presidente Michel Temer atribuiu a responsabilidade pelo quadro dramático no mercado de trabalho à herança que recebeu do governo anterior, de Dilma Rousseff, no qual ocupou o cargo de vice-presidente. Segundo ele, o descaso com as contas públicas é o cerne do problema. “Recebemos o país com inflação crescente, queda de 2,4% nos investimentos, com quase 12 milhões de desempregados. Não é culpa minha”, disse ele a uma plateia de economistas e empresários. “O descuido com as contas nunca se dá impunemente; entre as vítimas, estão o emprego, o crescimento, o bolso do trabalhador”, acrescentou.

No mesmo evento, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que o desemprego “certamente” tende a começar a cair a partir do ano que vem, com a recuperação da confiança dos empresários e a retomada do crescimento.  “O emprego tem uma certa defasagem em relação à atividade econômica. Com o crescimento da economia, evidentemente a retomada do emprego acontecerá inevitavelmente, embora não imediatamente”, disse ele. O ministro destacou, no entanto, que a situação econômica ainda “é muito séria”, que o Brasil “continua em recessão” e que “é prematuro dizer que já começou a recuperação”.

Meirelles afirmou ainda que o governo conta com a aprovação, ainda este ano, da proposta de emenda à Constituição que limita o crescimento dos gastos públicos e com o encaminhamento da reforma da Previdência. Segundo ele, as medidas são essenciais para que a confiança dos investidores na política econômica continue a aumentar. Para Eduardo Velho, economista-chefe da A2A INVX Global, o mercado de trabalho vai demorar  para retomar o fôlego. “O emprego é o último indicador a sentir a crise econômica e o último a sair dela. Apesar do aumento nos níveis de confiança nos rumos da política econômica, o empresariado tende a aguardar os resultados das reformas estruturais para dar o próximo passo. Qualquer melhora só começará a ser sentida a partir do segundo semestre de 2017”, avaliou.

Piora consecutiva
A Pnad Contínua aponta que a população desocupada no país cresceu 5,1%, o que significa que mais 583 mil pessoas saíram do mercado de trabalho, no trimestre de junho a agosto de 2016, em relação ao de março a maio, quando a quantidade de desocupados era de 11,4 milhões. Essa é a vigésima primeira piora consecutiva, segundo Cimar Azeredo, responsável pela pesquisa do IBGE. “Essa queda na ocupação normalmente não acontece em pleno terceiro trimestre. Um dado muito importante, também, é que, até 2015, informalidade e o trabalho doméstico ainda absorviam parte da mão de obra desempregada. Mas agora isso já não está acontecendo”, destacou.

O estudo do IBGE revelou também que a população ocupada caiu 0,8% no trimestre encerrado em agosto, em relação ao período anterior. De acordo com a Pnad, 90,1 milhões estavam inseridos no mercado de trabalho, um decréscimo de 712 mil pessoas. No confronto com igual intervalo do ano passado, quando eram 92,1 milhões de ocupados, houve declínio de 2,2%, ou redução de aproximadamente 2 milhões de pessoas.

De acordo com o IBGE , a quantidade de empregados com carteira assinada (34,2 milhões) se manteve estável em 2016. Mas esse é o menor patamar desde maio de 2012, quando o contingente era de 33,9 milhões de trabalhadores. Porém, frente ao trimestre de junho a agosto de 2015, houve queda de 3,8%, ou dispensa de 1,4 milhão de trabalhadores.

Setores
Segundo o levantamento do IBGE, no trimestre encerrado em agosto, em relação ao período imediatamente anterior, a maior redução no número de pessoas empregadas ocorreu na construção civil. O contingente de pessoal no setor, que é grande absorvedor de mão de obra, diminuiu 3,3%, o que significou o corte de 249 mil vagas. Na mesma base de comparação, 229 mil pessoas foram dispensadas na indústria geral, uma retração de 1,9%. Houve ainda um corte de 2,8% nos serviços domésticos (177 mil pessoas).

No confronto com com o trimestre de junho a agosto de 2015, a indústria enxugou o quadro em 1,4 milhão de pessoas, um recuo de 11% no contingente de mão de obra. Houve ainda redução de 2,8% na agricultura, pecuária, produção florestal e pesca (272 mil pessoas), e de 9,4% nos setores de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (996 mil pessoas).


"Recebemos o país com inflação crescente, queda de 2,4% nos investimentos, com quase 12 milhões de desempregados. Não é culpa minha"
Michel Temer, presidente da República

 

Correio braziliense, n. 19486, 01/10/2016. Economia, p. 7